Carnaval

domingo, 29 de setembro de 2013

Morre Fernando Pamplona


Enredo afro-brasileiro... o legado de Fernando Pamplona.

É com muito pesar que nesta manha de domingo (29/09/2013)  o ayê (terra) se despede de Fernando Pamplona. O acadêmico mais popular, amante da cultura brasileira, formado na escola de Bellas Artes do Rio de Janeiro, se apaixonou pelo desfile das escolas de samba e ao julgar o carnaval de 1959, admirou seu Salgueiro... o acadêmico enamorou-se pelo Acadêmicos. Surgiu assim, uma história de amor, sem pieguice alguma... Fernando Pamplona amou o Salgueiro e a partir de 1960 foi convidado pelo então presidente da escola, Nelson de Andrade para assumir os desfiles do Salgueiro como carnavalesco. Era tempo de pobreza, carnaval feito por amor, recebendo em troca apenas (e para quem ama o carnaval verdadeiramente, como Fernando amou, isso torna-se TUDO) a satisfação de ver sua escola desfilar. Fernando não só nunca recebeu um centavo pelo seu trabalho como carnavalesco, como quase que sempre tirou do seu bolso, dentro do possível, o dinheiro para que pudesse terminar o carnaval da sua vermelho e branco.
Se antes, os desfiles eram feitos por membros da comunidade, pessoas simples dos morros e das periferias, agora, o Salgueiro tinha um acadêmico, um profissional para desenvolver os seus enredos... Muitos pensaram que aquilo seria o fim, que o carnaval estaria predestinado a perder suas origens, afinal, no que um homem estudado, de classe média, poderia contribuir para a manutenção de uma cultura desde sempre rejeitada pela sociedade e oprimida pelo Estado? Fernando, simplesmente, trouxe para cada membro do Salgueiro o orgulho de ser negro, de ser pobre, de ser salgueirense...
Com Fernando Pamplona os temas apresentados pelas escolas de samba se transformam, os enredos nacionalistas, que tratavam da terra e dos heróis forjados caem por terra para dar lugar as histórias e personalidades esquecidas pela História oficial. A década de 1960, passaria a ser a década negra dos enredos salgueirenses, enredos afro-brasileiros, foi isso que Pamplona idealizou para os carnavais do salgueiro, afinal, isso era tudo que faltava no carnaval, onde o povo negro, dono da festa, ainda resistia em não falar sobre sua história e seus personagens. A mudança idealizada por Fernando e concretizada pelos salgueirenses não se deu apenas nos enredos, mas também no samba-enredo, pois Pamplona sugeriu que ao invés de LÁ-RÁ-RÁ, os sambas passassem a usar ÔH, ÔH, ÔH, por ser mais negro.
A partir de então, o negro salgueirense despiu as roupas de corte e as perucas brancas e passou a fantasiar-se com figurinos de indumentária africana, isso depois de muito papo sobre a história brasileira e a marginalização da cultura negra, pois o pessoal do salgueiro a princípio não gostou muito da ideia de sair com roupas que lembravam a escravidão. Afinal de contas se vestir de reis e damas da corte era muito mais "bacana" (termo usado pelos foliões na época), uma vez que durante o ano inteiro já teriam que conviver com a pobreza das favelas... Mas conversando com a comunidade Pamplona foi mostrando a importância de apresentar tais enredos e como aquilo seria inovador no carnaval. Assim, foi feito.
Como podemos ver, Fernando Pamplona não revolucionou só os enredos, mas também os sambas, as indumentárias e a própria ideologia dos salgueirenses. A partir daí, o caminho estava aberto para as demais escolas de samba, o enredo afro passou a ter o seu lugar nos desfiles das escolas de samba do Rio de Janeiro.
Além disso tudo, Fernando Pamplona, formou os principais nomes do carnaval carioca: Joãozinho Trinta, Rosa Magalhães, Renato Lage, Maria Augusta, Lícia Lacerda.

VEJA OS ENREDOS IDEALIZADOS POR FERNANDO PAMPLONA 

AnoEscolaColocaçãoGrupoEnredo
1960SalgueiroCampeão1Quilombo dos PalmaresArlindo-nilton 1
1961SalgueiroVice-Campeão1Vida e obra do AleijadinhoArlindo 2
1964SalgueiroVice-Campeão1Chico-ReiArlindo 2
1965SalgueiroCampeão1História do Carnaval CariocaArlindo 2
1967Salgueiro3ºlugar1História da liberdade no BrasilArlindo 2
1968Salgueiro3ºlugar1Dona Beja, a feiticeira de AraxáArlindo 2
1969SalgueiroCampeão1Bahia de todos os DeusesArlindo 2
1970SalgueiroVice-Campeão1Praça XI carioca da gemaArlindo 2
1971SalgueiroCampeão1Festa para um rei negroArlindo 2
1972Salgueiro5ºlugar1Nossa madrinha, Mangueira queridaArlindo 2
1977Salgueiro4ºlugar1-ADo Cauim ao Efó, moça branca, branquinha
1978Salgueiro6ºlugar1-ADo Yorubá à luz, a aurora dos deuses
1997Em Cima da Hora5ºlugarASérgio Cabral a cara do Rio

1 - Produzido com Arlindo Rodrigues e Nilton Sá
2 - Produzido com Arlindo Rodrigues


Como se vê no quadro, o enredo clássico de 1963 do Acadêmicos do Salgueiro "Xica da Silva" não é de autoria de Fernando Pamplona, como se costuma atribuir, e sim de Arlindo Rodrigues. No livro "O Encarnado e o Branco", Fernando relata que Arlindo havia lhe pedido para ajudá-lo a fazer esse enredo, mas que ele não aceitou:

FERNANDO: "- Enredo de merda, Arlindo!"
ARLINDO: "- Mas é negro, é de luta e conquista social, tá na nossa linha e ... É bonito paca!"
FERNANDO: "- Pô, cara, tu quer fazer negócio de babaca faz, segura a barra porque não estou nem aí, vou me mandar para Alemanha, tchau!"

E assim foi feito, Arlindo desenvolveu o enredo sozinho enquanto Fernando viajava pela Alemanha. De volta ao Brasil para passar o Natal e o Ano Novo, Fernando foi convidado para escolher o samba-enredo já que não havia participado da elaboração do enredo, então depois de ouvir os sambas, antes de voltar para suas viagens, Fernando deixou escrito o samba-enredo que achava merecedor da vitória, era o samba da parceria do Anescarzinho e do Noel Rosa de Oliveira. Samba que foi um estouro no carnaval e o Salgueiro foi novamente campeão!!!!!!!! Fernando recebeu a notícia, nas ruas de Paris.

Este ano, Fernando Pamplona lançou seu livro "O ENCARNADO E O BRANCO", onde conta suas aventuras pelo Brasil e por onde passou, contando fatos gloriosos de sua passagem pelo mundo do carnaval, de onde nunca esteve distante.


Há um mês Fernando recebeu o diagnóstico de um câncer raro, foi internado, recebeu alta e voltou para casa, onde morreu nessa manhã nublada de domingo. Fernando que acabara de completar 87 anos, deixa sua mulher Zeni, com quem foi casado durante 60 anos e três filhas.


sábado, 28 de setembro de 2013

Sinopse da Mocidade Independente de Padre Miguel, Carnaval 2014


"Pernambucópolis"


Manhã de Carnaval de 1985.
A Mocidade Independente de Padre Miguel partiu para o espaço sideral
levando com seu samba, toda alegria, beleza e as cores do nosso carnaval.
Todo o universo enfim, festejava e se encantava com a alegria, a ousadia e a irreverência de seu criador.
E hoje, alguns "Ziriguiduns" depois, esta mesma alegria, beleza e cores estão de volta, como numa viagem no tempo e nas estrelas...
É o grande dia do Carnaval Universal!

"Quero ver no céu minha estrela brilhar...
Está em festa o espaço sideral,
Vibra o universo, é carnaval!"

- Alô, alô Planeta Terra!
Alô, alô Rio de Janeiro!
Alô, alô Mocidade Independente!
De bigu na estrela guia, estou voltando.
"Eita... saudade tá danada não me aguento, não"
Saudade da minha gente, das minhas cores.
Estou de volta à minha terra... aos meus devaneios...
"Parece que estou sonhando, com tanta felicidade..."
E quero viver intensamente cada momento dessa saudade.
Quero sair por aí, andar, correr, brincar...
Quero, mais uma vez, ser e sentir tudo aquilo que já vi e vivi um dia. E os que ainda não vi e nem vivi, deixar a emoção desse encontro me levar, me transportar e me transformar.

"Eu sou mameluco, sou de Casa Forte
Sou de Pernambuco, eu sou o Leão do Norte"

Quero ser o coração do folclore, e pulsar a cada batida dos tambores, não importando de onde eles venham, se das bandas ou das orquestras, dos salões ou dos teatros, das ruas ou do mangue, do baque solto ou do baque virado. E são essas batidas que fazem fervilhar as veias, as pernas, o corpo.

E com o corpo, quero pular, dançar, subir, descer e balançar... Ao som do baião, do frevo, do coco, do forró e do xaxado. Rodar a ciranda, de pés no chão, pés na areia.

"Mas foi na casa de lia
Numa ciranda praieira
Que eu vi minha estrela-guia
Nos olhos da cirandeira"

Nunca fui homem de um só personagem, já fui índio, onça e arara; já fui pirata, camaleão e ET. E hoje quero ser novamente livre, quero ser rei, vassalo, batuqueiro, calunga, mascarado. Quero ser cacique ou curumim. Quem sabe caipora ou babau, ou até pastora e brincante. Quero ser boneco, de vários tipos e vários tamanhos: pequeno, grande ou gigante. Do dia, da tarde, da noite ou de qualquer hora. Ou quem sabe um Mamulengo, contador de histórias, num cordel; e que saia por aí, de sombrinha nas mãos, atrás de um afoxé, com o povo num bloco, mas daqueles bem grandes, muito grandes... o maior do mundo!

"A manhã já vem surgindo,
O sol clareia a cidade com seus raios de cristal
E o Galo da madrugada, já está na rua, saudando o Carnaval."

Quero ser as mãos de Vitalino, vida, forma e criação.
Vidas que nascem do barro, da madeira, da palha, da linha. Vidas que viram artes, artes que viram cores, cores que viram sonhos, sonhos que ganham as feiras e depois ganham o mundo. Quero riscar, tecer, rendar, trançar...
Quero pintar e bordar!!!!

Eu quero navegar...
Navegar nas águas da imaginação. Que essas águas me levem a caminhos e histórias do natural e sobrenatural, de mitos e lendas, de crenças e crendices. Vixe Maria, haja proteção!

Sou tudo isso e muito mais.
Sou o rio, sou o mar, o agreste e o sertão.
Sou o canto, sou a dança, sou o auto e o cordão. Sou o velho, sou o novo, o sagrado e o profano, a folia e o carnaval.
Sou mistério, sou a fé, sou Paixão e São João.
Acorda povo!...
Sou passado, sou futuro e do Norte sou Leão.

"Meu Deus, se eu pudesse
Fazer o que manda
O meu coração...
Voltava pra lá
Ou trazia pra cá
Todo o meu sertão"

E é hora de voltar, pelo tempo caminhar.
Mas eu quero mais samba, quero mais cores, mais alegria, mais Pernambuco!
Quero um pouco de tudo que vi e ouvi, senti e brinquei.
Vivi e vivo de sonhos, de transformar e criar. Vivo de emoções.
E todas essas emoções agora vão comigo, pois eu preciso dessa cor, dessa alegria, de uma gente e uma terra como essa.
O espaço precisa de uma Pernambuco, a minha Pernambuco.
Aliás, a minha "Pernambucópolis"

"Vejam
Quanta alegria vem aí...
...Minha cidade
Minha vida
Minha canção..."

E assim será!
Caboclinhos, boi-bumbá, frevos, afoxés, reisados e maracatus, mais uma vez farão a festa no espaço sideral.

Vibra o universo, é carnaval!
E lá vamos nós!
Borimbora!
Beijim, Beijim. Bye, Bye Brasil!

Fernando Pinto

Por Paulo Menezes
Numa noite de Carnaval de 2014.
Colaboração: Departamento Cultural da Mocidade Independente.

Sinopse da São Clemente, Carnaval 2014




"Favela"


Introdução

Somos a São Clemente, a Escola da irreverência. Quando o couro estremece com a pancada da fiel bateria, o Clementiano já sabe que é hora de brincar o carnaval na essência do que é esta festa: a alegria!
Mas não foi sempre assim, ou tão assim... No fim da década de 80 já éramos a Agremiação da espontaneidade, mas, junto com ela, vinha o grito: "olha a crítica!!!!" E foi dessa forma que alertamos o Brasil para o drama do menor abandonado, da violência e o perigo do samba sambar.

No carnaval de 2014, rimar São Clemente com irreverente vai continuar fazendo sentido. Subiremos a favela para mostrar toda a sua riqueza, malemolência e criatividade. Desvendaremos sua arquitetura, das origens à atualidade, dos costumes aos personagens. Em seus becos, vielas e barracos, encontraremos emoções, contradições e, claro, muita espontaneidade.

Hoje, Clementianos, favelados ou não, se misturam a esse corpo tão único e ao mesmo tempo tão heterogêneo, tão real e abstrato, tão sofrido e feliz... Portanto, seja bem vindo à favela da São Clemente, e conheça toda a dimensão da audácia humana!


SINOPSE

Chegava gente de todo lugar e em cada olhar havia uma chama, uma religião, uma fé...

Quem somos nós?
Herança do olhar de esperança dos negros enfim livres
A fé dos pobres soldados que foram a Canudos vencer o próprio espelho
dos sem cortiço, excluídos da cidade que limpava-se...
Quem somos nós?
Bisnetos dos imigrantes que fugiram da guerra
Netos da seca do sertão
Filhos da miscigenação
Somos a pluralidade na origem, a uniformidade na carência

Como fizemos?
Da necessidade!
Erguendo formas estranhas, audaciosas
Tão perigosas quanto geniais
Como fizemos?
Desafiando a lógica e a gravidade
Arquitetos e engenheiros
Mas sem régua, sem esquadro
Sem segurança, nem dinheiro
Como fizemos?
Desejo em forma tijolo!!!
Coragem em prego e concreto!!! 
Como malabaristas do dia-a-dia, nos equilibramos na necessidade
Como fizemos?
Caixote vira madeira, esteira é colchão
Vela na prateleira garante iluminação


Somos sinistros!!!
Porque quebramos o muro invisível da cidade partida sob marteladas de ritmo
Crescendo como família
"gente simples e tão pobre, que só tem o sol que a todos cobre"
Mas que faz arte de viver como nenhum outro
Somos sinistros!!!
Porque levamos pra cidade nossas manias e as trazemos de volta ainda mais ricas
No improviso, na invenção cotidiana, na parceria, no sofrimento, na festa, na religiosidade
A alegria de transformar dor em poesia.
Somos sinistros!!!
Porque vão falando como nós, dançando como nós, grafitando como nós

Nem adianta
A diferença incomoda
Fomos reprimidos, removidos, demolidos de novo
Somos o povo criativo e genial, mas barulhento
Que a sociedade gosta de ver... de longe...
Nem adianta
Nosso povo tem a força e a potência transformadora de um átomo
É cimento e sentimento
É concreto e abstrato
Nem adianta
Maltratar, proibir
Derrubam um barraco aqui, surgem cem ali

Parece pesadelo...
Viver na gangorra da vida
Entre a polícia e o bandido
Nosso guri abatido
Alvo de bala perdida
Parece pesadelo...
A dor cobre o pôr-do-sol
A esperança adoece
O descaso alimenta a fome
E a dignidade padece

Fala favela!
Sai dos labirintos, dança um afroreggae
Pinta a arte de nossos poetas
Dança, canta e ensina
Samba, pagode, funk e muito mais
Criação desenfreada
"Som de preto, de favelado, mas quando toca ninguém fica parado"
Exige mudança, refaz a esperança
E protagoniza teu próprio destino
Fala favela!
O teu filho um dia humilhado
Hoje é estrela que brilha em todos os palcos
E tem muito orgulho de ser cria daqui
Fala favela!
Em uma central única, desata os nós
Se antena no mundo
Erguei nossa voz

Tudo misturado, junto, conectado!
Pobres, gays, loucos ou burguês
Sem fronteiras, sem países
Toda cor, toda religião!
Quem diria?, o futuro vindo da contramão
Tudo misturado
Sem distancia, diferença, preconceito ou separação
Na mistura das cidades, nossa língua é a união
Tudo misturado
Porque a cidade está em festa
A gelada está no bar e Dona Marta já fez o feijão
São Clemente hoje é nossa família, nosso povo, nossa paixão.




Enredo:
Núcleo Criativo GRES São Clemente

Desenvolvimento de Enredo:
Bia Lessa

Sinopse:
Andre Diniz e Wladimir Corrêa

Presidente:
Renato de Almeida Gomes

Carnavalesca:
Bia Lessa


Sinopse da Imperatriz Leopoldinense, Carnaval 2014



"Arthur X - O reino do Galinho de Ouro na
corte da Imperatriz"



"A ÚNICA FORMA DE CHEGAR AO IMPOSSÍVEL É ACREDITANDO QUE É POSSÍVEL"
De Lewis Carroll em Alice no País das Maravilhas.

Autoriza o árbitro! Rola a bola na Avenida. Começa a decisão do carnaval carioca. Doze Escolas estão na briga! Vila quer buscar o feito do último campeonato. Império da Tijuca está na primeira divisão. Mocidade e São Clemente jogam na defesa. Ilha cadencia o jogo! Mangueira e Portela tentam a posse de bola pela intermediária. A sobra é da Grande Rio que chuta pro gol mas bate na zaga do Salgueiro. A torcida grita! Tijuca dispara pela ponta esquerda mas é desarmada pela Beija-Flor. Que jogada! Imperatriz domina com categoria, faz a finta e levanta a torcida. Quanta habilidade! Imperatriz cruza o meio de campo, deixa a marcação pra trás e parte em arrancada na direção do gol. O gol é o seu portal! Ela cruza o gol, abre os portões da poesia e mergulha, de braços abertos, na ilusão de um carnaval.

Diante da imaginação permissiva ela não se assusta. Sente-se confortável com o mundo novo que se descortina diante de seus olhos. O País do futebol, que até então muitos falavam, de fato existia e ela estava lá.
Nessa pátria de chuteiras, a nobre representante do carnaval toma conhecimento de histórias populares. Curiosidades em torno da existência de um rei de pernas tortas, fatos sobre a coroação de um rei negro. Porém, dentre as muitas histórias, uma lhe desperta interesse: Arthur X havia nascido plebeu em um subúrbio do país do futebol. A família Antunes Coimbra estava feliz e não conteve a ânsia de espalhar a notícia. Em tempo, damas, bufões, soldados e plebeus espalhavam o ocorrido pelas casas simples da rua Lucinda Barbosa.
O passar dos anos encarregou-se de transformar o plebeu em rei. Suas conquistas e lutas pessoais lhe conduzem ao trono. Travou e venceu batalhas. Foi condecorado com a farda verde e amarela – a mais alta patente dada a um combatente do país do futebol. Sagrou-se campeão trajando vermelho e negro nas disputas mundiais do octogésimo primeiro ano do século em que vivia. Foi coroado! Rei coroado no templo do futebol. E por ser soberano de uma nação popular, espalha-se a fama e a grandeza de suas glórias.
Diante da história que corre na boca de nobres e plebeus, aumenta o interesse da Imperatriz sobre o rei. No afã de encontrá-lo toma conhecimento da realização de competições que animavam as massas, tendo tal evento o título de "disputas dominicais." Realizadas em um lugar, que ficou popular como "Templo do futebol" – espécie de arena erguida em torno de um vasto campo verde – onde o povo se encontrava e se dividia em torcidas.
Junto à multidão que se espremia pode observar a chegada de combatentes de bandeiras e cores distintas. Gente que vinha desafiar os cavalheiros do Rei. Avistou ao longe um brasão que como símbolo ostentava uma "estrela solitária". Ouviu os gritos de euforia que precederam a passagem de uma nobreza fidalga vestida em verde, encarnado e branco. Pôde ouvir o toque que anunciava o atracar de uma caravela portuguesa junto ao porto e o delírio dos que aguardavam sua chegada.
Em meio ao povo que vibrava, não obteve sucesso na tentativa de aproximar-se do soberano. Porém pôde ouvir o anúncio de que o reinado de Arthur X entraria em festa: O aniversário do Rei seria comemorado no auge dos festejos de Momo que estavam por vir. Nobres de nações estrangeiras por onde seus feitos haviam ganhado fama já confirmavam presença e enviavam presentes. Do outro lado do mundo, onde se fazia noite quando aqui era dia e dia quando aqui era noite, a imagem do rei era esculpida em ouro.
No dia em que completava anos, os clarins faziam ecoar uma melodia ritmada que aludia a "vencer, vencer, vencer!" Seus súditos em festa vestiam o vermelho e o preto – as cores do manto sagrado que o Rei tinha predileção. Ela, a Imperatriz, ordenou que sua corte vestisse sua melhor roupa feita em verde, branco e ouro – talvez Arlindo, talvez Rosa – e viesse em cortejo, tecer honras ao monarca. Fez soar a bateria. Chocalhos, tamborins, surdos e cuícas embalaram o momento sublime. Ao Rei, como presente, a Imperatriz ofereceu-lhe valiosa jóia: sua coroa, feita em ouro e pedras verdes. Diante do feito, o povo de Ramos saúda o rei. Ele, dispensando o tratamento destinado aos soberanos, sorri, quebra o protocolo, e responde:

- Sem formalidades! É carnaval. Podem me chamar de Zico!

Carnavalesco: Cahê Rodrigues
Texto de: Leandro Vieira
Colaboração: Família Antunes Coimbra


Sinopse da União da Ilha, Carnaval 2014



"É brinquedo, é brincadeira;
a Ilha vai levantar poeira!"


Abra o baú da memória, pegue um brinquedo e invente uma história. Relembre a alegria desta herança. Levante a poeira, volte a ser criança.

Sonhe! Deixe para trás a realidade. Sua lembrança é a porta da felicidade. De origem diversa. Antigo ou moderno. Pelo encanto que desperta, ele será sempre eterno. Pode ser o tipo que for: de qualquer tamanho, matéria, forma ou cor.

Quer saber onde ele é feito? Em uma fábrica fantástica! E depois, presente na vitrine ou naquele comercial de TV. Como se lhe dissesse: "-Me compre, eu quero você!"

E não serve só pra divertir. Ele tem tanto para ensinar, quanto temos para aprender. A cada dia descubra novidades. Com cada pecinha montada, crie novas prendas, novas cidades.

Assim vivendo e aprendendo, nem sempre ganhando, nem sempre perdendo. Lembre que jogar era o seu viver. No meio da garotada, com a sacola do lado, só jogava pra valer.

Surgem novas formas de competição. Avance no tempo e irá conhecer, numa tecnologia de última geração, o invencível herói, você pode ser.

E se caso pegar algo na estante, verá que ele também está aqui. Fala, pensa, anda e age como gente. Atua nos palcos e nas telas; saídos de algum livro ou gibi.

Saia por aí como um livre petiz! No campo ou na cidade, no morro ou no asfalto. Pra lá do seu quintal por esse imenso país.

Brinque com o que a terra lhe dá: barro, madeira, palha, lata... Seja um pequenino travesso; párvulo; piá. Menino ou menina; pirralho; moleque. Um maroto cazuza; guria ou guri. Garoto ou garota; fedelho; pivete; baixinho; erê; curumim; bacuri. Pequerrucho grande, insulano brincante. Folião errante; um gaiato pimpolho.
Olha a União da Ilha aí meu povo, segura a marimba! Empina pipa, vá brincar de roda; de pique-esconde. Correr e pular, que a brincadeira não tem hora.

"-Ciranda cirandinha vamos todos cirandar..."

Molecada simbora!!!
A reinação terminou.

Encerrada a viagem,
redescubra a importância
de uma bela infância.
Dignidade e respeito.
Amor e proteção.
Afinal de contas,
lembre que ser criança...
NÃO É BRINQUEDO NÃO!

Argumento do enredo

Brincar é coisa séria!

Em 2014, desfilaremos brinquedos e brincadeiras, numa incursão pelo universo infantil.

O enredo resgatará a memória afetiva da melhor fase de nossas vidas.

É também um resgate da identidade da União da Ilha do Governador. Escola que se caracterizou por desfiles leves e "brincalhões".

Então, vamos nos divertir? Até porque a "hora do recreio" que desfrutamos a cada ano, é brincar carnaval.

Mostraremos um pouco de história e a importância de fatos referentes à infância.

Nem sempre destinado a crianças, alguns brinquedos foram utilizados por antigos povos em rituais e como objetos de adivinhação. Como entretenimento, há registros desde a antiguidade.

O conceito da palavra criança surgiu no Renascimento. Período que florescia a crença na humanidade e na sua capacidade.

Ao "inventar a infância" a modernidade cria a idade de ouro de cada indivíduo, fase em que a vida deveria ser perfeita, protegida e tranquila. Mas na realidade sempre se esteve afastada desse ideal.

Pintores e gravuristas em várias épocas retratavam com riqueza de detalhes, deixando um registro importante. Levando o adulto a prestar mais atenção no universo lúdico. E sua inseparável relação (desde a Idade Média) com a história do comércio e da evolução técnica de fabricação.

Brincando, a criança é conduzida ao imaginário. Experimenta, descobre, cria, exercita suas habilidades, desenvolve o intelecto e as relações afetivas. Estimula a curiosidade, a iniciativa e a autoconfiança. Contar, ouvir histórias, dramatizar, jogar com regras entre as outras atividades constituem meios prazerosos de aprendizagem. Além disso, expressam suas criações e emoções, refletem medos e alegrias, devolvem características importantes para a vida adulta. Brinquedos despertam vocações, pois muitos evocam na brincadeira o primeiro passo para uma carreira.

Considerados muitas vezes como frívolos, sem importância, foram aos poucos ganhando destaque entre educadores.

"o desenvolvimento da criança acontece através do lúdico. Ela precisa brincar para crescer, precisa de jogo como forma de equilíbrio com o mundo".

Quem disse isso foi Jean Piaget, psicólogo suíço, pedagogo considerado um dos mais importantes pensadores do século XX. Piaget publicou os primeiros artigos dobre a criança, o pensamento infantil e o raciocínio lógico.

A inteligência se constrói a partir do "jogar-brincar".

Brincar deriva do latim vinculum, que significa laço, união e criação de vínculos.

Diferente de outras línguas que ligam brincar diretamente com jogar, como em italiano – giocare; espanhol – jugar; francês – jouer; inglês – play (jogar, tocar...), etc.

O faz de conta refere-se ao "mundo do imaginário, da fantasia", "Fantasia é criar pela imaginação", segundo Antônio Houaiss.

A começar pela literatura infantil, passando pelo teatro, aos desenhos animados na televisão e no cinema, os personagens oferecem imagens que são muito significativas para a criança, e como algo de sucesso atraí a atenção da garotada, logo se tornam brinquedos.

A falta de espaço imposta pela vida urbana nos faz refletir sobre um ideal de infância com liberdade. Seria utopia? Causa perdida? Seria um lugar imaginário? Ou este lugar poderia ser encontrado em algum subúrbio ou por rincões espalhados pelo Brasil?

Vamos reviver algo que pode ser o passado ou o presente das crianças brasileiras, com suas tradições, características regionais, contato com a natureza.

O brinquedo artesanal é reflexo do ambiente em que ele foi construído e é o momento em que o objeto vira arte. E as brincadeiras são heranças de uma cultura popular miscigenada, com predomínio rural.

A preservação destas brincadeiras é muito importante para a manutenção folclórica do país.

Moral da história...

Cuide da criança que habita em você. Assim, saberá cuidar e respeitar as demais. Sem felicidade nada disso faria sentido, nem o último lançamento ou a velha cantiga de roda; nada é mais importante que um sorriso.

Vamos brincar?

Sinopse da Grande Rio, Carnaval 2014




"Verdes olhos sobre o mar, no caminho: Maricá"
A estação que inspira é o verão...

Nas primeiras horas de uma manhã de sol, ela desperta depois do que havia programado. O corpo ainda se sente envolvido pelo ócio da noite anterior.

Apressadamente, aproxima-se da janela e vislumbra as primeiras nuances luminosas do despertar de um novo dia. O brilho invade o ambiente outrora escuro pela noite e a claridade reflete na retina de seus olhos verdes. É a vida dando ao destino nova chance de refazer o fim da história. Quem sabe, nova fase, cantada em outro tom.

O sol aquece seu corpo na varanda da casa. Ela se dirige ao piano e algumas notas ecoam. No bloco de folha branca inicia o seguinte rascunho:

"Verdes olhos sobre o mar, a brisa a me levar nas asas do tempo!
Doce é este lugar, onde o chão guarda suas memórias
E a fé multiplica-se nas águas!
No firmamento a benção de teu "amparo"
Nos livros, páginas passadas que falam de sua história..."


O vento soprou mais forte e fez com que os cabelos se tornassem empecilho para os olhos. O som do piano cessou, o pensamento foi longe, e ela reacendeu a inspiração dos versos:

"Confesso que nem tudo vi!
Quando sua beleza fascinou o inglês pela manhã, tudo era verde e eu não estava lá!
Do seio de fertilidade da mata, do zum-zum-zum dos seres que lhe encantaram
Da visão noturna do que há pouco era dia, herdei as noites "negras"
Tornei-me dona das estrelas que emolduravam o céu que foi dele..."


Ainda é manhã e sobre o mar o "barquinho" risca o horizonte. Ela cessa novamente o som do piano e instaura um demorado silêncio. Seus olhos verdes, são mais verdes quando fitam o mar. O canto do sabiá rompe a ausência do som. Ela retoma os versos:

"Ai quem me dera ver tudo
Lançar-me no passado
Correr em tuas plantações verdes, provar de tua laranja mais doce
Faze-la outra vez cidade que já foi terra de muitos
Que Darwin passou, que o trem prosperou
Hoje meu verso é em tua homenagem, é canção para um samba que em mim é sempre carnaval..."


O vento continuou soprando em seus ouvidos a inspiração para compor:

"A praia o terno convite:
O sol, as ondas, o banho de mar e o surfista solitário que corta as ondas como quem borda no Espraiado
No Barquinho corro o mundo, volto e olho: não consigo me acostumar
Não ando só na imensidão
Daqui ou de qualquer lugar, só fui feliz em Maricá."


As linhas estavam no papel encontrado entre a casa e o mar. Como assinatura lia-se um "M" maiúsculo, seguido de um "A" emendado em um "Y" um "S" e encerrado com um "A". No fim da folha encontrada, lia-se: MAYSA.

Leandro Vieira e Roberto Vilaronga
Carnavalesco: Fábio Ricardo

Sinopse do Império da Tijuca, Carnaval 2014



"BATUK"
Tocar, bater, vibrar;
Batuk.

Que faz lembrar África dos nossos ancestrais

E a pureza dos cânticos à vida, onde tudo é ritmo.

N'aldeia, em volta da fogueira,

Alegria e dança; celebração!

A etnia é guerreira, tem o dom da comunicação.

Assim quiseram os deuses.

Pois minh'alma é força, é parte natureza.

Transforma o corpo em orquestra, instrumento,
Cura. Fala de Saudade. Alerta.

Baila no rito do mascarado a iniciação,

Enfeita as cabeças, espalha felicidade.

Faz kizomba, enaltece os valores da amizade.

Gira no ritual que espalha axé,

Mistura negro, branco e índio.

Canta forte, pois tem fé,

Bate palma, pois tem fé,

Reza, é sagrado, é sinal de fé.

Eleva o canto aos céus e pede,

Clama o fim das injustiças, quer ser livre.

Coroa a liberdade em forma de prece,

Ao bondoso Deus e ao divino espírito santo.

Faz-se essência da cultura popular.

Dos reis, crioulas, marujeiros e brincantes,

Rodopia, irradia alegria, espanta a tristeza.

Desce a ladeira no passo que "freve", ferve!

Segue o cortejo da casa real, cortejo da coroa imperial.

Profano,

Embala o corpo, põe pra dançar.

O ritmo desce a ladeira, inclui,

Dita moda, conscientiza, refaz as cabeças.

Mistura, faz crítica, fala da realidade,

Faz onda que recria uma nação.

Alegria de todo um povo,

Condenado, proibido, imoral.

Mesmo assim resistiu, pôs-se a jongar.

Voltou pros salões, virou fino trato.

Enfeitou-se de flores, levantou o estandarte,

Lançou perfume e apaixonou a sociedade.

Saiu por aí, deu samba, fez escola.

Subiu o morro,

Lá do alto fez seu reinado e estendeu o manto,

Verde de esperança e branco da paz.

Coroou uma gente guerreira,suburbana, feliz,

Que hoje faz sua batucada especial.

Afinal, da África ao Brasil,

Em todo mundo,

É tempo de Batuk.

Sinopse da Vila Isabel, Carnaval 2014



"Retratos de um Brasil plural"
APRESENTAÇÃO
No Brasil, um gigante pela própria natureza, as Unidades de Conservação são áreas naturais protegidas por lei e guardam, em sua maioria, além de uma expressiva riqueza natural, um significativo patrimônio histórico-cultural, representado por ritos e celebrações, formas de expressão musical, conhecimentos, folguedos, causos e imaginário coletivo, todos construídos na relação íntima das populações tradicionais com o ambiente em que vivem.

É preciso proteger o "corpo" do "gigante", como o fez Chico Mendes!
Chico Mendes (1944-1988), nome que batiza o órgão responsável pela gestão das unidades de conservação brasileiras, foi filho de migrante cearense, começou no ofício de seringueiro da Amazônia ainda criança, acompanhando o pai em excursões pela mata. Assassinado no ano de 1988, em Xapuri, sua cidade natal, Chico Mendes nos deixou um legado de defesa da floresta e de proteção das populações nativas, bem como do meio em que vivem.

Da mesma forma se faz necessário e urgente preservar a autêntica "alma" brasileira!
E a "alma brasileira", no dizer de Luís da Câmara Cascudo, é o amálgama de tradições múltiplas e milenares. "Nós brasileiros, somos representantes, biologicamente resignados, de povos de alto patrimônio supersticioso. (...) O nosso alicerce consta de amerabas, portugueses e africanos. (...)" "Todas essas memórias ficaram vivas nas reminiscências brasileiras, nos giros e volteios da ebulição mental, presenças ativas na química de todos os pavores coletivos".
Câmara Cascudo (1898-1986), um dos nossos maiores folcloristas, foi um "moderno descobridor do Brasil". Através de suas pesquisas e incansável trabalho de campo, Câmara Cascudo nos revelou os caminhos dos vários "sertões" do nosso país, e assim passamos a conhecer melhor o nosso chão e a nossa gente através de nossas manifestações folclóricas, ali onde tantos pensavam não encontrar mais que o vazio imenso, uma vez que a própria etimologia de "sertão" remete a uma forma contrata de "desertão" que, de acordo com o próprio Cascudo, veio da África a bordo dos Negreiros.
Proteger as nossas populações tradicionais e o seu folclore é a melhor maneira de preservar a VERDADEIRA NATUREZA do Brasil. Por isso, para o carnaval de 2014, a Unidos de Vila Isabel junta Chico Mendes e Luís da Câmara Cascudo para um redescobrimento da nossa terra e do nosso povo, revelando as cores e matizes que retratam um Brasil plural.


Sinopse do enredo
É o Brasil um gigante pela própria natureza! Um gigante feito de rochas, terra e matas que moldam sua figura, dos bichos e pássaros que vivem em seu corpo e dos rios que correm em suas veias. Um gigante que, por muito tempo, ficou adormecido enquanto seu corpo era mutilado e suas riquezas saqueadas. Mas é na força do povo, presente nos ritos e celebrações, na musicalidade, nos folguedos, nos causos, no imaginário coletivo e nas ações de preservação, que encontramos a alma deste imenso Brasil. Uma alma viva, que se manifesta e faz vibrar o corpo do gigante lhe fazendo despertar.

Vamos então, seguindo a trilha deixada por Câmara Cascudo, encontrar os "desertões" africanos que "batizaram" os cafundós da nossa terra e, partindo da nossa Costa Marina, adentrar os nossos sertões numa viajem para desnudar o corpo e reverenciar a alma deste imenso Brasil.

Separando as Costas daqui e de lá estava o "Oceano Tenebroso", como um espelho d'água a refletir a triste imagem da escravidão.
Mas foi do meio do "desertão" da África tribal, e não do vai e vem do litoral, que herdamos a alegria das festividades e a espontaneidade do cantar e do dançar e que desaguaram no vasto estuário da nossa cultura popular.
Do lado de cá, os lusitanos também se fixaram como "caranguejos", ocupando todo o litoral, berço da exuberante e diversificada Mata Atlântica, criando as diversas regiões coloniais e espalhando os "dejetos" da civilização e do progresso. Diferentemente das terras costeiras, onde os nativos e negros trabalhavam como escravos na exploração das riquezas, os "sertões selvagens" e desconhecidos ficaram renegados à própria sorte.
Mas, enquanto os "civilizados" do litoral derrubavam a floresta original, os lampejos de "brasilidade" espocavam aqui e acolá: os nativos fizeram o colonizador "dançar" e os minuetos escaparam do salão para as varandas e dali para os congos, batuques e cucumbis dos terreiros negros. Seja nas procissões, seja nas danças, iniciou-se o "embaralhamento" como traço marcante desse barroco-latência que nos constituiu.
Mas se, mesmo dilacerado, o litoral foi o ventre gerador, foram os solos desprezados dos sertões que guardaram e protegeram as tradições mais autênticas que do Brasil floresceu. Foi ali, na dureza da lida e da vida afastada da cidade, e não do litoral, lugar onde imperavam as transformações rápidas, que chegavam por meio das regiões portuárias, trazendo mercadorias e idéias que não tinham correspondência com os valores do nosso solo, que vingou a nossa legítima "alma" brasileira.
É o momento de redescobrir na simplicidade da sombra de um cajueiro, do trabalho das rendeiras e das xilografias do cordel, a passagem que nos leva ao Reino do Cangaço, o fabuloso cenário onde Lampião e seus compadres se encontram com as cortes do sertão. E vislumbrar entre mandacarus, xique-xiques, facheiros e coroas de frades, a misteriosa "floresta Branca" onde o homem das caatingas, entre uma oração pedindo chuva e uma reza amaldiçoando a morte, nos mostra toda riqueza e esplendor onde antes acreditava-se existir apenas o vazio, o deserto e a morte camuflada e escondida na poeira. E quando a chuva cai do céu, por milagre ou pura sorte, o branco se torna verde e a vida vence a morte.
E o verde tem mais cor! Deixe-se, então, seduzir pelo canto do uirapuru e seja conduzido ao Reino das Amazonas, as senhoras do "Inferno Verde", onde o cangaceiro das caatingas se transforma em barão seringueiro e protetor da copaíba, da andiroba, do babaçu e do buriti. Vem do coração da mata a lição, vem do sertanejo amazônico o exemplo: que a corrente que agora enlaça os troncos, diferentemente daquela puxada por tratores assassinos, seja uma corrente que junte os elos da preservação herdados de Chico Mendes e abençoados pelos seres encantados!
Liberte-se das amarras e permita que o seu pensamento lhe transporte até os Sertões dos Cerrados nos acordes de uma moda de viola para conhecer o Reino de Morená e desbravar a intrigante "floresta de cabeça para baixo" com suas quebradeiras de coco e a riqueza do capim dourado. É a grande oca onde os povos do Xingu realizam o Kuarup em honra aos ancestrais mortos enquanto os deuses sagrados lutam contra o boitatá de fogo para impedir a queimada do seu território. E assim, sob reluzente céu azul anil, protegido esteja o berço das águas do Brasil.
Mas não tenha medo! Feche os olhos, ouça o suave canto da Mãe-D'água e, no vai e vem das águas, no subir e descer das marés, se deixe levar até a Baía de Chocoreré no Pantanal onde o Barco Fantasma com sua bandeira mal assombrada navega ao som do hino do Divino para proteger o lugar. E fecha a porteira e segura o gado! Boi, boi da cara preta não derrube essa cerca porque o pantaneiro não tem medo de careta. Pois aqui tem boi verde do bem e gente que vira bicho sem ninguém estranhar! São tantos mistérios e "causos" que é preciso muito tempo para gente contar.
Dê tempo ao tempo e asas à sua imaginação e voe com a Gralha Azul aos Campos do Sul e também se torne um protetor dos pinheirais. E não perca o rodeio que está para começar: tem pinhão e peão na peleja! E tem o Negrinho do Pastoreio todo prosa em seu cavalo de pau querendo ser o vencedor e o Caipora faceiro sentado em um porco do mato também tem o seu valor. Mas o tempo está acabando e o torneio chegando ao final.
Levantemo-nos das nossas selas confortáveis do descaso, porque para sermos os campeões dessa corrida precisamos ter atitude e pararmos o ganancioso relógio da devastação! É hora de ouvirmos os nossos corações, porque o coração é o que está dentro, é o sertão de cada um!Eis o reconhecimento da Unidos de Vila Isabel a todos os "Chicos" e "Câmaras Cascudos" anônimos espalhados pelo Brasil! Hoje somos "Vila" e "Herdeiros"! Herdeiros do respeito a nossa natureza e do amor às coisas do nosso país!
Protegendo o "corpo" como fez Chico e a "alma" como fez Cascudo, estaremos preservando a VERDADEIRA NATUREZA do nosso gigantesco país e revelando as cores e matizes que retratam um Brasil Plural!
Carnavalesco: Cid Carvalho
Pesquisa: Alex Varela


Sinopse da Unidos da Tijuca, Carnaval 2014



"Acelera, Tijuca!"
"Mais veloz que o tempo, mais real que um sonho"

O Brasil e o mundo estão ligados no Grande Prêmio Tijuca 2014! São oitenta e dois minutos de muita expectativa! É realmente para fazer o coração do torcedor explodir de tanta emoção! O Sambódromo está lotado e o público das arquibancadas está aqui para sentir toda a adrenalina da velocidade. É uma grande torcida!

A Unidos da Tijuca criou um percurso fantástico, com momentos marcantes de grandes corridas que consagraram os mais rápidos competidores de todos os tempos. Quem é o mais veloz e pode realizar proezas inesquecíveis? Conquistar a vitória é uma tarefa difícil, pois esse é um circuito que exige muito dos pilotos.

Mais alguns instantes e lá vem a largada do Grande Prêmio da Tijuca. Depois de uma emocionante disputa pela Pole Position, os competidores se preparam nos boxes para enfrentar o grande desafio. Tudo pode acontecer na pista da Marquês de Sapucaí!

Os mecânicos fazem os últimos ajustes. Vamos conhecer em alguns minutos quem será o vencedor dessa prova. São os últimos momentos antes da corrida.O público observa os competidores. E lá estão alguns dos mais fortes concorrentes! No boxe 1, os animais mais velozes da natureza, que já inspiraram a aerodinâmica de tantos carros. As incríveis inovações tecnológicas que correm o mundo, rompendo barreiras e desafiando limites, se agitam no segundo boxe. Nos outros boxes, não poderiam faltar os personagens inesquecíveis, criados pela ficção para brincar com a eterna paixão do homem pela velocidade, e os esportes que exigem rapidez, superação, agilidade e ousadia. É pura emoção! Quem vencerá o GP da Tijuca? Quem será capaz de escrever o nome na história da velocidade? Os pilotos estão prontos para arrancar para a vitória!

Os carros já estão enfileirados para o início da corrida. Os pilotos buscam o melhor aquecimento dos pneus, dos freios, procuram se concentrar, se preparar para essa grande prova! Os motores começam a ser acionados. E agora está tudo pronto para a grande largada! Vamos ao ronco dos motores, eles vão roncar alto! Acende a luz vermelha, vem a verde. Largaram!

Logo no início da prova, os pilotos enfrentam uma emocionante curva. Ela é perigosa e exige muita habilidade. Qualquer erro pode definir o resultado da disputa. Todo cuidado é pouco! O trecho desafia os competidores, como a lendária e apaixonante curva Eau Rouge (Água Vermelha), do circuito da Bélgica, que atravessa uma belíssima floresta e requer uma incrível capacidade de aderência aerodinâmica dos carros.

E lá vem eles! O cavalo cruza a pista usando toda a potência de seu motor. O beija-flor mantém sua posição por causa do novo bico, mais longo e estreito, e de asa menor, que garantem mais velocidade e equilíbrio. O peixe-agulhão mergulha por dentro da curva, seguido pelo guepardo, que dá o bote e encosta no falcão peregrino. Olha a tartaruga e a lebre se metendo por ali para entrar na disputa e erguer a bandeira da vitória!

Agora eles entram na grande reta. Esse é o momento que arrepia porque passam rasgando numa velocidade impressionante! Nesse trecho, a Internet é sempre uma adversária muito poderosa. O Homem Elétrico acelera e diminui a diferença. O Avião Supersônico, no final da reta, acha um vácuo e encosta no Satélite. O Trem Bala desliza, mas a Velocidade da Luz não permite uma aproximação maior. Todos pensam em poupar pneus porque essa é uma corrida desgastante, sem dúvida alguma, e que exige, agora mesmo, um Pit Stop.

Alguns corredores reduzem e se preparam para entrar nos boxes. É incrível ver a rapidez, a sincronia e o trabalho perfeito dos mecânicos. Em segundos, a equipe troca os pneus e manda o carro de volta para a pista.

Eles disparam, aceleram tudo para tirar a diferença e quase tocam na mureta de proteção da pista. Lá vem o mexicano Ligeirinho botando pressão para cima do Papa-Léguas, que precisa frear para evitar o choque. Todo mundo colado ali e quem entra na disputa é o Speed Racer. O garoto vem com tudo! The Flash vai tentando evitar que Speed abra muito. Vem colado nele, olha a diferença! Mas o Sonic segue bem de perto tentando botar frente, acelera de novo e vem voando baixo!

Logo atrás estão os volantes mais birutas do mundo para realizar mais uma corrida maluca. Todo mundo embolado ali! A máquina do mal e seu volante ardiloso, Dick Vigarista e Mutley, sempre prontos para aplicar um golpe sujo, vão atormentar Penélope Charmosa, a boneca do volante! O Professor Aéreo parte para cima dos Irmãos Rocha. A Quadrilha da Morte é um pouquinho mais rápida e evita aproximação do Cupê Mal-Assombrado. O Barão Vermelho dá combate ao Tanque de Guerra, que acelera e cola no Caipira Luke. Peter Perfeito encosta e quase tira o Rufus Lenhador da pista! Sensacional! Eles forçam o ritmo do início ao fim, Todo mundo junto tentando ultrapassagens alucinantes!

Agora falta pouco para a final, a competição fica mais acirrada! Você vai vendo aí o Velocista se impor e assumir a dianteira. O Ciclista consegue ainda mais velocidade, pedala sem parar e dispara! Mas o Motociclista se aproxima só na força do motor! Que Grande Prêmio, que corrida fantástica! E, para a nossa surpresa, o Remador disputa no braço para alcançar a chegada! É inacreditável o que a gente vê nesse circuito do samba! O Velejador não quer ficar para trás e aderna, quase vira, tentando ficar na frente! Quem vai chegando devagar e sempre é o Calhambeque que entra na pista para matar as saudades!

Quem aparece na primeira posição? Aí vem Ayrton Senna, lá na frente de todos! Aí vem Senna, o Brasil na frente! Ele já faz o V de vitória. Bandeiras agitadas em verde e amarelo em todo o circuito! Senna, que ainda menino já dominava o volante, vem, desde pequeno, abrindo dianteira, emocionando o público com suas conquistas! Aí vem Senna no final da reta, é o final da prova, na Linha de Chegada, Ayrton Senna! Sobe a bandeira quadriculada! Ayrton, Ayrton, Ayrton Senna do Brasil! Ninguém mais segura a torcida! Os torcedores oferecem bandeiras do Brasil para ele! A festa é dele aqui no Sambódromo. Faz a festa o Brasil com a vitória de Ayrton Senna no Grande Prêmio!

É a volta da vitória! A última volta no Sambódromo para mostrar que Senna veio para ficar. Acelera, Brasil, junto com Ayrton Senna! Meninos e meninas entram na pista para lembrar que Senna é capaz de inspirar seus sonhos! Que o desejo de vencer requer trabalho, dedicação e competência! Ayrton Senna carrega na ponta dos dedos a esperança de cada brasileiro! Ele pega a bandeira e leva à loucura a arquibancada da Sapucaí. Sobe mais uma vez no pódio, o Campeão. No GP da Tijuca, o Brasil revive com ele a emoção da vitória. Não há tempo que ele não ultrapasse, não há sonho que ele não inspira se tornar realidade! Brilha a estrela de Ayrton Senna na Sapucaí!

Ana Paula Trindade
Fátima Brito
Isabel Azevedo
Paulo Barros
Simone Martins