A estação que inspira é o verão...
Nas primeiras horas de uma manhã de sol, ela desperta depois do que havia programado. O corpo ainda se sente envolvido pelo ócio da noite anterior.
Apressadamente, aproxima-se da janela e vislumbra as primeiras nuances luminosas do despertar de um novo dia. O brilho invade o ambiente outrora escuro pela noite e a claridade reflete na retina de seus olhos verdes. É a vida dando ao destino nova chance de refazer o fim da história. Quem sabe, nova fase, cantada em outro tom.
O sol aquece seu corpo na varanda da casa. Ela se dirige ao piano e algumas notas ecoam. No bloco de folha branca inicia o seguinte rascunho:
"Verdes olhos sobre o mar, a brisa a me levar nas asas do tempo! Doce é este lugar, onde o chão guarda suas memórias E a fé multiplica-se nas águas! No firmamento a benção de teu "amparo" Nos livros, páginas passadas que falam de sua história..."
O vento soprou mais forte e fez com que os cabelos se tornassem empecilho para os olhos. O som do piano cessou, o pensamento foi longe, e ela reacendeu a inspiração dos versos:
"Confesso que nem tudo vi! Quando sua beleza fascinou o inglês pela manhã, tudo era verde e eu não estava lá! Do seio de fertilidade da mata, do zum-zum-zum dos seres que lhe encantaram Da visão noturna do que há pouco era dia, herdei as noites "negras" Tornei-me dona das estrelas que emolduravam o céu que foi dele..."
Ainda é manhã e sobre o mar o "barquinho" risca o horizonte. Ela cessa novamente o som do piano e instaura um demorado silêncio. Seus olhos verdes, são mais verdes quando fitam o mar. O canto do sabiá rompe a ausência do som. Ela retoma os versos:
"Ai quem me dera ver tudo Lançar-me no passado Correr em tuas plantações verdes, provar de tua laranja mais doce Faze-la outra vez cidade que já foi terra de muitos Que Darwin passou, que o trem prosperou Hoje meu verso é em tua homenagem, é canção para um samba que em mim é sempre carnaval..."
O vento continuou soprando em seus ouvidos a inspiração para compor:
"A praia o terno convite: O sol, as ondas, o banho de mar e o surfista solitário que corta as ondas como quem borda no Espraiado No Barquinho corro o mundo, volto e olho: não consigo me acostumar Não ando só na imensidão Daqui ou de qualquer lugar, só fui feliz em Maricá."
As linhas estavam no papel encontrado entre a casa e o mar. Como assinatura lia-se um "M" maiúsculo, seguido de um "A" emendado em um "Y" um "S" e encerrado com um "A". No fim da folha encontrada, lia-se: MAYSA.
Leandro Vieira e Roberto Vilaronga Carnavalesco: Fábio Ricardo
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