Carnaval

domingo, 29 de julho de 2012

Sinopse do GRES Acadêmicos do Grande Rio, Carnaval 2013





"Amo o Rio e vou à luta: Ouro negro sem disputa...
Contra a injustiça em defesa do Rio"

Uma Inspiração…

[...] - o petróleo é muito novo – prosseguiu o geólogo. – não tem um século de vida, pois praticamente começou em 1859 com o poço do Coronel Drake. Quando o petróleo apareceu em cena, o grande combustível era o carvão de pedra. E talvez que quando o petróleo acabe tenhamos que voltar ao carvão de pedra, muito mais abundante na natureza. Mas a culpa do petróleo acabar depressa vai caber aos americanos. Tiram petróleo demais; gastam-no demais. Quantos milhões de anos não levou a natureza para fabricar cada bilhão de barris que eles extraem anualmente? Nem tem conta. O petróleo é filho do sol, como também o carvão de pedra. O Sol é fonte da vida e, portanto, a fonte da matéria orgânica que gera o petróleo. Logo, o petróleo é o sol – são os raios dum sol de milhões de anos atrás que ficaram enterrados no seio da Terra. Os homens, esses engenhosos bichinhos, furam o chão e desenterram os raios de sol líquido. E os reduzem a gasolina, a querosene, a óleo combustível, a óleo lubrificante, a parafina, a supergás, a quase 300 produtos diferentes. Até perfumes eles tiram do petróleo bruto. E com esses ingredientes operam-se prodígios – sobretudo em matéria de transportes.

Continuamente, pelo mundo inteiro, milhões de baratinhas metálicas, chamadas automóveis, percorrem os caminhos e as ruas em todas as direções. Cada vez mais o céu se enche das gigantescas aves mecânicas, chamadas aviões. Por cima dos mares correm aos milheiros os navios tocados a petróleo. Pelo seio das águas sulcam os submarinos movidos a petróleo. Por toda parte fábricas e mais fábricas rodam sem parar, graças à força do petróleo. O petróleo transformou-se no motor do mundo.

- Por quê?
- Porque não passa de energia mecânica sob forma líquida, facilmente transportável para todos os pontos da Terra. Que é uma caixa de gasolina? São milhares de calorias enlatadas. Cada litro de petróleo, quando queimado produz 12 mil calorias – muito mais que o carvão de pedra, a lenha e todas as coisas de queimar. Colocado num motor, esse petróleo se transforma em energia mecânica, a serviço de todos os trabalhos do homem – para puxar carros, para mover navios ou aviões, para levantar pesos nos guindastes, para movimentar as mil máquinas das fábricas, para tudo quanto o homem faz com o fogo ou com as pequeninas explosões dos gases. [...]

Fonte: LOBATO, Monteiro. O Poço do Visconde. São Paulo: Brasiliense, 1965.


Intenção do Enredo

A G.R.E.S. Acadêmicos do Grande Rio inspirada por seu amor ao Rio de Janeiro se une para criar seu próprio manifesto a favor do clamor popular focando nos direitos aos benefícios provenientes sobre a produção petrolífera do nosso Estado; o Rio de Janeiro produz 83% de todo o petróleo existente no território nacional. Temos o ônus, merecemos o bônus!

Muitos municípios – incluindo a nossa capital – são beneficiados por esses dividendos, promovendo melhorias, nos mais variados segmentos, como mobiliário urbano, segurança, transportes, inserção social entre outros.
Traduzindo plasticamente toda esta cadeia, mostraremos em nosso desfile não só a produção e seus benefícios diretos como a formação de mão de obra qualificada dedicada à mesma.

Estendendo estes benefícios ao crescimento urbano dos municípios, as melhorias se fazem notórias na educação, saúde, reorganização e expansão geográfica dos espaços, aglutinando a população e aos que lá chegam proporcionando mais conforto local em um todo.

Entretanto, todas estas melhorias provocam mais gastos às suas prefeituras e obviamente os “Royalties” na maioria dos casos são a única fonte para a manutenção operacional e financeira do município. Está aqui o cerne desta questão tão polêmica no âmbito político com projetos de leis que ainda não foram votadas nas esferas de Brasília, que visam à diluição destes proventos entre todos os municípios da Federação.

Caso isso ocorra, os atuais municípios beneficiados não conseguirão sobreviver dos parcos recursos que restarão e como conseqüência será notória a degradação urbana e sua falência administrativa e financeira causando danos irreversíveis para estes logradouros e sua população não atendida.

A criação deste repasse, inicialmente, visa à manutenção do equilíbrio ecológico com varias medidas de contenção, projetadas para cada região, onde equipes de técnicos das mais variadas especialidades dedicam-se a minimizar o possível desastre à biodiversidade local que, certamente, atingiria toda a população.

Atualmente o Carnaval é a maior e mais espetacular festa popular onde podemos sambar brincar e nos divertir na maior liberdade, mas também nos dá a possibilidade de atingir os corações dos que nos acompanham in loco ou através dos mais variados meios de comunicação com enredos que espelham quem somos – o que queremos e merecemos – e este com certeza nos toca diretamente – o respeito ao nosso querido Estado do Rio de Janeiro e aos que aqui vivem e trabalham.

Somos uma massa homogênea, consciente de seus deveres clamando por seus direitos em uma só voz a levantar a bandeira contra a [...] “Injustiça em defesa do Rio”…

Roberto Szaniecki
Carnavalesco

SINOPSE SETORIZADA PARA COMPOSITORES

Introdução:
A descoberta de petróleo na camada pré-sal, localizada a 7 mil metros abaixo do nível do mar em uma área de 200 quilômetros de largura e 800 quilômetros de extensão, pode colocar o Brasil entre os maiores produtores mundiais de petróleo.

Ainda não foi totalmente estabelecida a quantidade exatas de petróleo na camada pré-sal, os impactos ambientais, além das regras para a exploração desse petróleo, porém a distribuição dos royalties sobre esta produção além da já existente, vem sendo um dos assuntos mais discutidos sobre o pré-sal.

O termo “royalties” originou-se na Inglaterra, no século XV. Ele foi criado como uma forma de compensação (pagamento) à realeza em virtude de disponibilizar suas terras à exploração de minério. Atualmente, esse termo é utilizado para definir o pagamento ao dono de uma patente.

No Brasil, o valor arrecadado pelos royalties do petróleo é dividido entre a União, estados e municípios produtores ou com instalações de refino e de auxílio à produção.

Mostraremos através dos setores os benefícios que a indústria do petróleo proporciona ao Estado do Rio de Janeiro e aos Municípios diretamente ligados a esta produção e também as conseqüências danosas no caso de faltarem os recursos necessários para o desenvolvimento social, urbano e ambiental provido por estes “ROYALTIES”.

Abertura: A Plataforma da Produção.

Conhecimento, coragem, força e determinação. Uma plataforma de extração de petróleo é como um grande conjunto de engrenagens que forma um motor perfeito. Desta estrutura partem homens bravos e suas máquinas maravilhosas que, como um cardume em deslocamento, vai até o limite de suas forças para conseguir extrair do fundo do mar azul o ouro negro e líquido que vai impulsionar o nosso desfile.

Abrimos o nosso desfile com a frenética produção e toda a operação em alto mar para a extração, transporte e refino do petróleo que é a mola mestra da aquisição dos dividendos sociais e financeiros que mostraremos.
Plasticamente reproduziremos as Plataformas com o vai e vem de veículos de transportes, o trabalho insalubre e também as refinarias transformando o OURO NEGRO em produtos para a comercialização.


Setor 1: Produtos Petrolíferos.
O mundo é um ser vivo, é como uma máquina que precisa se manter lubrificada para o bom funcionamento. O petróleo é o sangue que movimenta esse ser, esse “ecossistema” onde tudo é interligado. Cada parte trabalhando pelo bem do todo: desde o transporte deste ouro líquido e negro até o processamento e, posteriormente, o escoamento e a utilização dos produtos gerados a partir dele.

Neste setor abriremos o leque de possibilidade de produtos e suas aplicações no nosso cotidiano.
Os combustíveis que movem grande parte da economia do País pelas estradas, ferrovias, espaço marítimo, fluvial e aéreo. O uso dos materiais plásticos e suas variantes, borrachas sintéticas e componentes químicos e suas utilidades. Tudo isso visando à importância destes industrializados no nosso dia a dia, sem que nos apercebamos dos mesmos. É uma demonstração da inegável versatilidade destes derivados do petróleo.


Setor 2: Mão de Obra da Indústria PetrolíferaO petróleo gera o progresso, estimula o crescimento e o alcance de novas tecnologias. Faz-se necessária a formação e o aperfeiçoamento profissional. Impulsiona o saber para o bem fazer, como uma grande corrente que gira como força motriz do ciclo “conhecimento – aplicação –produtividade – riqueza”.

Com a expansão desta indústria e a demanda cada vez maior da produção, o interesse na formação de profissionais dedicados a essa área tem se tornado o foco das empresas diretas e indiretamente ligadas ao setor para suprir as lacunas do crescimento exponencial das mesmas.

A Indústria Naval “OFF-SHORE” absorve metalúrgicos, técnicos em eletrotécnica e eletrônicos, profissionais em áreas de hidráulica, cientistas e pesquisadores de materiais e produtos são alguns dos muitos profissionais requisitados. Como dito antes, operários, técnicos e acadêmicos também apóiam como satélites toda a produção.

Começam assim as vantagens desta demanda, pois o investimento na formação destes especialistas cria toda uma teia de pessoas dedicadas a ensinar e aplicar seus conhecimentos para o progresso e excelência destes profissionais sempre tão exigidos. Traduzindo em melhores aplicações dos recursos diretos e indiretos, obviamente beneficiam os que se dedicam a tal, melhores salários e condições de vida.

Os municípios e as cidades também se preparam para receber o alvo desta demanda provocando um crescimento demográfico que tem de ser atendido em seus anseios e necessidades, os quais, nos próximos setores serão vistos.


Setor 3: Educação, Esporte, Lazer e Inclusão
O progresso proporciona o direito à cidadania. Para o bem viver, mens sana in corpore sano. Cidades que respeitem o cidadão e lhes dê acesso ao saber, a Arte, cultura, esporte, saúde e oportunidade de uma vida digna e feliz.

Dando continuidade aos processos de melhoria de vida nos logradouros em desenvolvimento a aplicação dos recursos do petróleo vão em direção ao social. O dinamismo dos trabalhos dessas comunidades exige iniciativas que facilitem a população.

A criação de creches, a melhoria do ensino: básico, médio e superior vira prioridade. Aliado a estas demandas, o esporte e o lazer complementam as ações educacionais e independentes, projetos nas áreas artísticas como: dança, teatro, artesanato entre outros, potencializam novos talentos promovendo uma perspectiva mais otimista para o futuro. Outras ações a serem citadas direcionam-se a terceira idade com a oportunidade de alfabetização e campanhas para a melhoria da saúde e incentivo ocupacional criando cooperativas e associações de várias ordens, gerando oportunidades àqueles que já não se encontram no mercado de trabalho formal e lícito.


Setor 4: O equipamento Urbano e a preservação do Patrimônio Histórico
Cuidar do que é nosso, preservar o passado para melhor construir o futuro. Não podemos perder a poesia de ver os barcos voltando ao final da tarde depois de um dia de pesca. O puxar ritmado das redes, comprar o peixe na beira da praia. Ter o prazer de um mergulho num recife de corais. O passeio na antiga praça, o namoro em frente ao coreto. O bucólico repicar dos sinos da Igrejinha ou apenas apreciar as sacadas dos antigos casarios em total harmonia com as modernas construções. Passado preservado, presente garantido e futuro promissor através dos investimentos proporcionados pelos recursos do petróleo que impulsionam o turismo e o crescimento das cidades sem detrimento de sua história promovendo o progresso com qualidade.

As prefeituras das cidades beneficiadas acabam por priorizar também as obras de infra-estrutura para melhorar o Equipamento Urbano. Água, esgoto, energia elétrica, asfalto e todo o processo de modernização local encontram o aporte financeiro para a sua realização. Como conseqüência o conforto urbano abre novas oportunidades de negócios. O incentivo ao turismo é reforçado pelo esforço conjunto na preservação de locais e construções históricas já que a região costeira do norte do estado é bastante representativa do período colonial brasileiro.

As tradições de subsistência das regiões também são incentivadas como é a pesca artesanal, com melhores meios de escoamento da produção e construção de equipamentos como: mercados, feiras cobertas, docas, entre outros, além do atrativo das praias e vales pacatos muito freqüentados nas altas temporadas e feriadões.


Setor 5: Serviço de Utilidade Pública
Nosso desejo e nossa esperança é a de que os royalties do petróleo continuem a ser usados para a maior infra-estrutura das cidades. Saúde, segurança, coleta de lixo, preservação do espaço urbano, são apenas alguns dos aspectos cobertos com os recursos advindos desta compensação financeira aos municípios que produzem ou beneficiam esta riqueza.

O aumento proporcional da população demanda mais atenção das prefeituras com os cidadãos. Os implementos de saúde com novos ambulatórios, hospitais e unidades de pronto atendimento (UPA) aos poucos conferem mais qualidade e variedade de especialidades, conferindo a estes locais a independência sobre outros municípios, principalmente, ao Rio de Janeiro Capital.

A segurança envolvendo a policia local e estadual também desfruta de investimentos em instalações mais bem equipadas, veículos modernos, novos pontos de apoio para a população em geral e aos turistas, além da manutenção do equipamento existente. Não podemos nos esquecer também da formação de novos profissionais nas áreas já citadas.

O cuidado com o parque urbano também passa pela eficiência na limpeza com um serviço mais dinâmico da coleta de lixo e na preservação dos parques e jardins, aliando este último ao patrimônio arquitetônico, confere ares de total organização urbana que todas as cidades buscam em suas administrações.


Setor 6: Produção Ambiental e o Caos
Como crescer e, ao mesmo tempo preservar? Como explorar sem destruir? Como manter o equilíbrio desse enorme e ao mesmo tempo frágil ecossistema que engloba o mar e a terra? Tirar do fundo o ouro negro sem macular o oceano que o acolhe. O respeito à exuberante natureza que tudo nos proporciona. Esse é o grande enfoque. Essa é a meta a ser alcançada. Essa é a nossa luta!

Um dos primeiros princípios para a criação dos repasses dos direitos aos municípios produtores ou beneficiados está ligado diretamente à preservação e contenção de qualquer acidente ambiental. O investimento nesta área passa pela pesquisa e aprofundados estudos do ecossistema local gerando regras capazes de dar contenção e minimizando os danos de algum infortúnio. São biólogos, geólogos, oceanógrafos e toda uma série de profissionais focados neste frágil equilíbrio na terra e no mar. Os estudos desse manancial de vida passam pela catalogação de espécies vivas, gerando um banco de dados e de preservação genética “in vitro” para desenvolvimento imediato e futuro caso um dia, isso seja necessário.


Conclusão:Todo potencial de propriedade e crescimento dos municípios e do próprio Estado do Rio de Janeiro está ameaçado caso os recursos dos “Royalties” advindos da produção petrolífera venha a faltar.
Esse desenvolvimento dos municípios está diretamente ligado aos proventos que geram no mínimo a manutenção dos projetos já existentes.

Sendo direto, grande parte dos municípios simplesmente faliria por não ter como gerar outras fontes de captação capazes de suprir os custos de suas obrigações com o seu chão e sua população.
Algumas cidades maiores estariam em problemas sérios nos campos, principalmente nos serviços de segurança pública e saúde, fora a deteriorização do equipamento urbano, já que não haveria o investimento necessário para a manutenção nem do que já existe.

Finalmente, incluindo um provável, porém indesejável desastre ambiental tomaria proporções muito maiores por não ter no primeiro momento como se mobilizar de forma rápida e eficiente, o projeto de contenção pré-estabelecido.

É uma situação de grande apreensão onde o Estado do Rio de Janeiro e muitas cidades e municípios se encontram. A incerteza toma conta de todos nós e é mais do que louvável levantarmos esta bandeira contra essa injustiça, pois nosso povo muito já fez para crescer com afinco, paixão e trabalho. E não é justo que agora nos tirem a esperança de dias melhores que aos poucos tem se desenhado no horizonte das nossas vidas.

A Acadêmicos do Grande Rio em 2013, assim como toda a comunidade de Duque de Caxias, se une a todos os Municípios produtores de Petróleo e em uníssono conclama sua indignação contra o desrespeito de que estamos sendo vitimados.

Temos orgulho de ser brasileiros, amamos o RIO e vamos à luta!


Roberto Szaniecki
Carnavalesco
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Sinopse do GRES Unidos da Tijuca, Carnaval 2013



DESCEU NUM RAIO, É TROVOADA! O DEUS THOR PEDE PASSAGEM PRA MOSTRAR NESSA VIAGEM A ALEMANHA ENCANTADA


A Unidos da Tijuca mostra, em 2013, ano da Alemanha no Brasil, todo o encanto da cultura alemã e sua importância na história da humanidade. A contribuição desse país, que é uma das maiores potências do planeta, atravessa todos os campos do conhecimento: ciência e tecnologia; arte e cultura. Para celebrar esse encontro e conquistar a Avenida num instante, um raio cruza a passarela e aproxima dois mundos tão distantes. Odin envia seu filho, o poderoso Thor, para conduzir seres mágicos dos tempos pagãos, anões e gigantes, dragões e duendes, elfos e gnomos pela Sapucaí e revelar a força da influência alemã. Esses conhecidos personagens inspiram até hoje as mais diversas produções artísticas. Habitantes de florestas sombrias brincam com a imaginação humana, atiçam a curiosidade, impondo oráculos e segredos, construindo um imaginário misterioso e caótico que só os deuses podem controlar. Os personagens da mitologia nórdica foram amplamente divulgados pela Alemanha e alimentam histórias extraordinárias entre homens e divindades.
Essa força criativa produz obras revolucionárias e revela grandes nomes que povoam a galeria de gênios da arte e da cultura que inspiram autores no mundo inteiro: as sinfonias de Beethoven; o teatro crítico de Bertolt Brecht, que desfila mendigos, bandidos, prostitutas e vigaristas; a literatura de Goethe e o mito de Fausto, que vende sua alma ao diabo para satisfazer seus desejos impossíveis. Das telas do cinema alemão dos anos de 1930, surge O Anjo Azul, um típico cabaré em sua atmosfera nebulosa de sedução e prazer.
De onde vem tanta criatividade? Que outros lugares e personagens fantásticos de nossa infância foram recolhidos às páginas dos livros e se tornaram universais para povoar todos os mundos em todas as linguagens? Era uma vez… um jeito de brincar a vida inteira para que nem o tempo se canse de recriar novas brincadeiras. Quem criou aqueles momentos de construir cidades, cenários e cenas onde pequenos personagens e peças são montados e desmontados para divertir as crianças?
Quem inventa encontra soluções simples ou descobre formas inovadoras de transformar. Ousa libertar a palavra presa aos manuscritos, torná-la impressa, ao alcance de todos. É capaz de aumentar a velocidade, provocar o deslocamento rápido, o desenvolvimento. O inventor coloca motor no automóvel, dispara como um foguete, como um raio! Novas tecnologias e descobertas levam a outros lugares e conquistam um futuro inventado, planejado.
E quem enfrentou o desafio de se antecipar, partir mais cedo e chegar nessas terras tão distantes num tempo em que atravessar não durava só um instante? Imigrantes aqui semearam os gostos de outra terra. Beberam, comeram e plantaram os frutos da Alemanha. E misturaram isso tudo no país que tudo mistura. Vai trovejar na Avenida e cair raio o ano inteiro pra festejar a Alemanha desse jeito brasileiro!

Isabel Azevedo
Simone Martins
Ana Paula Trindade
Paulo Barros














Sinopse do GRES Mocidade Independente de Padre Miguel, Carnaval 2013




"Eu vou de Mocidade com Samba e Rock In Rio - Por um mundo melhor"
Rasgando o espaço, como um cometa,
Que viaja na contramão,
Neste universo de sambas,
De estrelas “bambas”
Como rocha que rola solta ao léu,
Um coração aberto, alado,
Com asas de liberdade
Que se abrem pra Mocidade,
E se desfaz no céu,
Faço-me um “PULSAR”, “SUPER NOVA”,
A “Pop Star”, com luz que irradia,
A energia que atrai e guia
Sou o Rock and Roll, a rebeldia,
Independente de Padre Miguel.
Num “Big-Bang” musical,
Venho trazer algo de novo,
Romper barreiras, invadir a festa,
Pra contagiar o povo,
E com o poder da criação,
Como a terra assim se fez,
Imaginar... que bom seria,
“Se a vida começasse agora”,
“E o mundo fosse nosso outra vez...”
Num gesto de estender a mão,
Venho apagar preconceitos
E com ousadia, conduzir com bravura
Todos numa só direção,
“Uma só voz, uma canção...”,
Canção de amor e respeito,
Que propõe união,
Uma doce mistura,
Fazer um “swing” bacana,
Do “Chiclete com Banana”,
Da Guitarra e do Pandeiro,
Do teclado e do Tamborim,
Do Roqueiro e do Sambista,
Num encontro maneiro,
“Pro meu samba ficar assim”.
Bebop, baticumbum
“É o Samba-Rock, meu irmão...”,
Juntos, na mesma praça,
Num sonho de carnaval,
Vem me dá tua mão,
Somos “dois em um”, que o Rio abraça,
E que nos mostra, mundo a fora,
Vem, vamos juntos com a Mocidade,
Mudar de vez a história,
E nela, escrever mais um capítulo,
No sonho que começa agora
Era uma vez...
Houve um tempo,
Que uma cortina de chumbo,
O Brasil envolvia,
Porém, um sonho verde esperança,
Também nascia,
Vislumbrando um horizonte novo,
E dele, um brado forte e direto se ouvia,
Livre e jovem, na voz de seu povo,
Foi então, que um certo homem,
Com um sonho certo,
Imaginou o Rio, um palco aberto,
A taba de todas as tribos
Unidas num festival,
A celebração da música
Da arte e da cultura
E da vida, em alto astral
E o sonho se construiu em aço
E da lama se fez brotar a flor,
Um belo lírio de paz,
Uma ideia feliz de futuro,
Um pensamento capaz,
De unir o mundo através da música,
Num pequeno planeta a se formar,
Diverso, repleto,
Daquilo que há de mais profundo,
Ou, que imaginamos sonhar,
De tudo um pouco,
Um pouco de tudo e mais,
Muito de música, muito de gente,
Diferentes, juntos, iguais,
E foram dias de felicidade,
Incandescentes,
Noites inesquecíveis,
Envolventes,
Noites de estrelas,
Que iluminaram legiões,
Preencheram mentes e corações,
Com o que há de bom de vida,
O melhor que dela flui,
Sentimento que ficou como tatuagem,
Naqueles que seguiram em frente,
A lembrar com alegria e orgulho,
E a dizer simplesmente: Eu Fui!
E assim se passaram 06 anos...
E a vida segue, o mundo roda,
Solto como uma bola,
E no templo do futebol,
É o rock que rola,
No tempo marcado, o tempo de cantar,
Levei craques da música,
A pisar o gramado,
Driblando a rivalidade,
Fiz de cada lance, um momento encantado,
E todo estádio se
transformar,
Era como um anel de luz, aliança,
A se envolver e se encontrar,
Como uma linha de passe,
A sintonia,
O “que antes dividia,” “versus”,
Uniu-se em versos, numa canção,
E virou sinergia,
E o som se tornou uma só bandeira,
A balançar na melodia,
Como um show à parte,
Ou parte do show
E se propagou no agito,
De pura emoção e de alegria
A explodir o coração,
Numa imensa “hola”, como magia,
Num mesmo grito
É Maraca, Rock in Rio,
É massa!
É gol!
Uma década se passa...
E na roda do tempo,
O amanhã é incerto,
De um mundo disperso,
Sem atenção,
Eu fiz soar um sino de alerta,
O silêncio que desperta,
À conscientização,
Tempo de refletir,
Hora de pensar,
E fazer a música impedir,
O progresso que avança,
Lançar o som que alcança,
O mundo que corre,
E fazê-lo parar,
Era hora de acordar,
De usar a mente, em cena aberta,
E fazer do rock, a voz da razão,
Ecoar sons por todo o planeta,
Amplificar a canção
Em música e letra,
Como instrumento de ação,
Ser acordes do bem maior,
Acordes pela vida,
Por um futuro de paz,
E me fiz à rocha, um marco,
De um “Rock in Rio” que faz,
Cantar “por um mundo melhor”
Tempo que avança, tempo de mudança,
Mas “navegar é preciso”
E foi preciso mudar,
Jogar-me ao mar e esquecer,
Outro, de lágrimas,
Daqueles que aqui deixei ficar,
E segui os ventos,
Pra respirar outros ares,
Onde a música pode levar,
E “por mares nunca dantes navegados”
Ao contrario dos descobridores,
Eu fui o navegante inverso,
Rumo ao velho porto de além-mar,
Num mar de fados e de versos,
Pronto a me aventurar,
Seria o acaso,
Ou uma brisa boa?
Descrito por “Camões”
Ou num poema de “Pessoa”
Que fez do Tejo Lusitano,
Outro Rio por abraçar?
A resposta não tarda,
O poeta faz explicar,
“tudo vale à pena
Se a alma não é pequena”
Valeu a pena navegar,
E descobrir numa boa,
Que apesar do grande mar que nos separa,
Maior é o coração que nos une,
E a alma que nos ampara,
Na mesma língua, a voz que ecoa,
Na música, no Rock in Rio ou em Lisboa,
E a Europa jamais seria a mesma...
E assim... Eu segui meu caminho,
E o velho mundo se abriu,
E abraçou o sonho novo,
O sonho por viver,
De se entregar, se dar,
Um mundo a se entender,
Através da música sem fronteiras,
Cigana sem pátria, sem bandeiras,
Livre a percorrer estradas,
E por elas se deixar levar,
Como linhas da vida, do destino,
Portas abertas por adentrar,
E rompi a terra de sangue e areia,
Com a força implacável de um touro,
Indomável Rock, “olé” que incendeia,
O chão ibérico de rubro e ouro,
Tangendo as guitarras flamencas,
Na arena feita de aço,
Eu desbravei, conquistei passo a passo,
A terra madre, Madrid,
“España, soñada”
De Galdi, Miró e Picasso
E foram mais 10 anos...
Sim, tudo na vida passa,
Só não passa a saudade,
Da cidade-mãe que um dia deixei,
E cruzei novamente o oceano,
Como um filho a correr pro abraço,
Pra dizer feliz pro meu Rio:
Estou aqui, “Eu voltei!”,
Voltei renovado, ainda mais forte,
Tanto quanto eu sempre quis,
Fiz do meu sonho, realidade,
Da Taba, uma cidade-diversidade,
A fórmula para um mundo mais feliz,
Sou o “Rock In Rio”, rocha em fusão,
Amálgama a ligar culturas,
Em constante transformação,
A cidade eterna da alegria,
Sou a magia em forma de emoção,
Na arte viva de luz e som,
De corpo, alma e coração,
Ponto a romper a linha do horizonte
Pra levar ao mundo a minha mensagem.
Eu irei!
Seguir a minha viagem, essa história sem ponto final
Que se escreve a cada momento
Como som que hoje bate em meu peito,
Um sentimento,
Um desafio, um novo sonho, um ideal,
De ver juntos, “na Apoteose”,
Numa só voz, no carnaval,
O samba e o rock, uma overdose,
De união, paz e felicidade,
Uma insólita mistura, delírio, loucura,
Que com certeza não faz mal,
O futuro a Deus pertence,
O nosso começa agora,
A Mocidade traz o novo, de novo,
Indiferente aos velhos preconceitos,
Abre o seu coração ao povo,
Independente de ser samba ou rock,
É a arte, é a música, é o presente,
Ou melhor, um presente,
Para o mundo inteiro receber
E perceber
Como seria bom imaginar
“Que a vida começasse agora,
E a gente não parasse de amar,
De se dar, de viver...”
ÔÔÔÔÔÔÔÔ ROCK IN RIO...


Alexandre Louzada
Carnavalesco

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Jacarezinho divulga logotipo do enredo sobre Jamelão





A Unidos do Jacarezinho divulgou o logotipo pra o enredo em homenagem a voz maior do samba carioca, Jamelão. O enredo que se chamava "Puxador não, intérprete!", sofreu pequena mudança em seu nome, passando a ser "Puxador não...Intérprete! Por Mestre Jamelão".  A escola será a primeira a desfilar pelo Grupo de Ouro, na sexta-feira de carnaval.










quinta-feira, 26 de julho de 2012

Lançamento do CD "Baú da Dona Ivone"

Dona Ivone Lara com amigos da música


Na noite desta quarta-feira - 25 de julho de 2012 - foi lançado no Teatro Rival Petrobrás, o projeto "Baú da Dona Ivone", um CD com músicas inéditas da primeira dama do samba. O Cd é um projeto com parceiria do Município do Rio de Janeiro. Dona Ivone não canta no CD, mas suas lindas composições são interpretadas por grandes intérpretes da MPB, como Maria Bethânia, Caetano Veloso, Nelson Sargento, Beth Carvalho, Nei Lopes, Delcio Carvalho, entre outros.
O show foi dividido em duas partes: na primeira, apresentaram-se alguns dos cantores que participaram da gravação do Cd: André Lara  – Áurea Martins – Monarco – Nelson Sargento – Delcio Carvalho – Juninho Thybau – Luiza Dionizio - Ciraninho da Portela; na segunda, Dona Ivone deu o ar de sua graça, sentada numa cadeira de rodas cantou seus grandes sucessos ao lado de seu parceiro, produtor do CD, Bruno Castro e de seu neto, André Lara.
No final do show, houve parabéns a Nelson Sargento, que estava aniversariando e o prefeito junto com o secretário de educação saudaram a Rainha do Samba. Isso porque o Cd não será comercializado, pelo menos não agora. O "Baú da Dona Ivone" será distribuido pelas escolas do município do Rio de Janeiro, para que todas as crianças conheçam a obra de Dona Ivone Lara, que foi educada no internato do Colégio Municipal Orsina da Fonseca, no bairro da Tijuca.
Aos 91 anos de idade, Ivone Lara demonstrou estar muito lúcida, cantou com voz firme suas músicas, agradeceu ao público e aos amigos e brincou com todos. Foi reverenciada por Nelson Sargento, que disse mais uma vez: "SE A MÚSICA TIVESSE FORMA HUMANA, SERIA IVONE LARA"!!!!!!!

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Sinopse do GRES Inocentes de Belford Roxo, Carnaval 2013



"As Sete Confluências do Rio Han"
A água me contou muitos segredos
Guardou meus segredos
Refez meus desenhos
Trouxe e levou meus medos

(Caetano Velloso)

O GRES Inocentes de Belford Roxo tem a honra de abrir o Maior Espetáculo da Terra, apresentando o enredo As Sete Confluências do Rio Han. Conta com a proteção de Yondung Halmoni, a Deusa do Vento, e o desejo de águas calmas para fazer fluir sua história, acompanhada do bater dos tambores Buk e Janggu, que vêm dar acento a nosso samba. A Escola traz as tradicionais moradas coreanas que há 50 anos vem imigrando para o Brasil. Vai contar 5.000 anos de história em uma saga poética e ilustrando algumas décadas da jovem nação que surpreendeu o mundo com seu avanço, crescendo com a força de um tigre. Vai entrelaçar passado – marcado por batalhas, resistências e luta, presente – com a afirmação de uma nova identidade – e o futuro que se afigura brilhante, no ritmo das águas e ao sabor das marés. Vai buscar no fundo das águas a força das mulheres mergulhadoras, as haenyos, e vai contar o recomeço desta antiga nação, bela e resistente como sua Rosa de Sharon, a Mungunghwa, flor símbolo da Coréia do Sul.
O homem é resultado das gerações que o procedem, de um longo processo acumulativo que desenha seus traços e molda sua cultura. Mas é um ser mutante, cuja vontade leva ao crescimento e às mudanças, ele domina seu destino, reverte caminhos, traça novos rumos para si. Assim é a Coréia, uma nação que decidiu mudar, escolheu um futuro para si e transformou-se radicalmente em um curto intervalo de tempo.
No Brasil a crescente colônia coreana trouxe a riqueza de suas tradições e moldou-se ao país da antropofagia. A bordo do gigante navio holandês Tjitjalenka, os primeiros coreanos trouxeram seus sonhos de prosperidade. Navegar é neste sentido uma construção de ilusões. No Bom Retiro brasileiro a saudade e a esperança se encontram, a caminho da Liberdade. Nestes pontos a colônia se concentra para manter vivas as tradições dos homens que tem Hananim no coração.
O enredo da Inocentes flui como água, usando a tradição e a contemporaneidade para mostrar a riqueza dual da nação. De forma lúdica vamos desdobrar cultura, religião, indústria e progresso como aspectos confluentes de um mesmo povo. Rituais, danças, alegorias, cores e sons peculiares vão contribuir para a personificação da Coréia na Marquês de Sapucaí.
Vão rufar os yengos, invocando os espíritos e abrindo a dança para os céus – o calendário lunar avisa que é dia de festa para celebrar a boa colheita. A colheita que para nós é um belo desfile.
As tradições milenares e a nova tecnologia se unem com a benção de Maytreia e a combinação dos traços dos povos que compõem um mosaico de cores e tons que simbolizam mais do que a inificação de bandeiras, reinos, dinastias, tradições. A soma é maior que as partes. O movimento das águas mistura e purifica. Suas correntes não aprisionam, libertam para a utopia que veleja entre o real e o imaginário, confluindo neste Rio de Janeiro, a cidade do Maravilhoso, que tem também a sua mistura, de ginga, paixão e fé, que orienta o Brasil.
Carnavalesco – Wagner Gonçalves
Pesquisa e texto – Roberta Alencastro Guimarães e Wagner Gonçalves

Sinopse do GRES Portela, Carnaval 2013







"Madureira... onde o meu coração se deixou levar"

Rio de Janeiro, 1970.

Avenida Presidente Vargas.

“Nesta Avenida colorida a Portela faz seu carnaval...”

Com o rosto molhado de suor e lágrimas, vejo a minha Escola conquistar a plateia com mais um desfile. Agora com um sabor especial, se aquecendo... “senti meu coração apressado, todo o meu corpo tomado, minha alegria voltar...”

E então pensei:

“Meu coração tem mania de amor...” E que amor é esse que me conquista a cada dia? Que amor é esse que move toda essa gente? De onde vem isso tudo e como essa história começou?

E é isso que vou descobrir.

E assim, com a alma aquecida de emoções, lá fui eu para Madureira, de trem, cantando samba, assim como Paulo Benjamin fazia décadas atrás.

“Eu canto samba
Porque só assim eu me sinto contente
Eu vou ao samba
Porque longe dele eu não posso viver...”

Quero trilhar os caminhos desse povo, como um “peregrino”, descobrir sua gente, sua cultura, sua fé, o seu canto e o seu samba.

Descobrir sua história.

Pisar onde outrora pisaram tropeiros, escravos, boiadeiros, mercadores e imperadores, caminhos de trabalho e suor, onde antes só se viam fazendas, engenhos e fé, afinal toda essa história começa pela fé.

E o povo dança, o povo canta; dança o branco, dança o negro.

“Pisei na pedra
A pedra balanceou
Levanta meu povo
Cativeiro se acabou”

Negros fugidos, negros forros. Festa, jejum e esmola. Samba, dança, música e religião. Enfrentar a dor através da arte.

Casas de umbanda e casas de candomblé, liderança e mistério, atraindo a atenção para a “roça”.

Caminhos de terra, caminhos de ferro.

E o povo vai chegando, de tudo quanto é direção. Imigrantes de dentro e de fora. Os caminhos viram estradas.

Estradas de terra, estradas de ferro.

Chega o progresso e com ele os ambulantes, que depois viram mercadinhos, os mercadinhos viram mercados e os mercados viram mercadões.

E eu... vou seguindo meu caminho.

Vou ouvindo batuques, ritmos e sons. Sons sincronizados, parecendo sapateado. Mas são apenas sons de pés, que dançam, chutam e pulam. Pés que vão construindo outros caminhos. Não importa se num tablado, no asfalto ou na grama, o importante é a ginga, que por vezes me lembra a de um malandro. Como tantos que esta história construiu. Ou como tantos que aqui chegaram para construir outras histórias. Malandros loiros, brancos, mulatos, sararás, crioulos. Assim como as músicas, loiras, brancas, mulatas, sararás e crioulas, ou como se diz agora: black.

“No carnaval, esperança
Que gente longe viva na lembrança
Que gente triste possa entrar na dança
Que gente grande saiba ser criança”

E o batuque continua.

Marchinhas, mascarados, coretos, baianas, blocos de sujo, carnaval...

São os caminhos da folia! Caminhos da fantasia, onde cada um é o que deseja ser, onde mulher pode virar homem e homem, virar mulher. E é através da fantasia, do sonho, que nascem duas das maiores Escolas de Samba da história.

E que orgulho hoje ver Portela e Império, juntas, a cantar que esse nosso lugar “que é eterno no meu coração. E aos poetas traz inspiração pra cantar e escrever”.

Madureira é assim. Amor, atividade intensa, vivida com orgulho suburbano, lugar de morada da altiva nobreza popular, pois aqui reside a Majestade do Samba.

“Não posso definir
Aquele azul
Não era do céu
Nem era do mar...”

Tantos são os caminhos, e por eles vou atrás de suas histórias, me sentindo cada vez mais parte integrante dela, deste lugar e destes caminhos, que hoje se encontram mais uma vez, afinal...

Sou Paulo, sou Paulinho, da Viola e da Portela.

E tenho muito orgulho em contar esta história para vocês, afinal... “o meu coração se deixou levar.”

E, agora, o mesmo trem que me trouxe, me leva de volta, e continuo batucando, não mais como Paulo Benjamin fazia, mas como todos os Portelenses continuam fazendo ainda hoje, preservando a sua memória e o seu lugar, que eternamente será conhecido como a “Capital do Samba”.

“Madureiraaa, lá lá laiá.”
Paulinho da Viola,
pelas mãos de Paulo Menezes (e mais uma vez os caminhos se cruzam).

Este enredo é dedicado aos noventa anos da Portela e a todos os portelenses que, infelizmente, não estão mais entre nós, mas que continuam abençoando a Portela lá de cima, do Olimpo dos sambistas.
Enredo e pesquisa: Paulo Menezes e Carlos Monte

Sinopse do GRES Imperatriz Leopoldinense, Carnaval 2013



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"Pará - O Muiraquitã do Brasil"
"Sob a nudez forte da verdade, um manto diáfano da fantasia."
(Eça de Queiroz)
Bateu com o pé direito no chão com mais força, depois cuspiu para frente! Pronunciou duas ou três vezes com voz rouca:
Hê, hyá, hyá, hyá, e seguiu dizendo:
Cúara tece o inicio do dia
É de manhã!
O oby tinge a retina dos olhos de quem vê
Chocalho de cobra, onça pintada, ariranha, garça branca e guará!
Cheiro de mato.
É o Uirapuru quem canta primeiro.
Levo as mãos à pedra verde: Dê-me a sorte, oh Muiraquitã!
O ibitu sopra o destino das águas
Faz o verde do aningal se apekúi
Por de trás da folha verde se vê o povo Tupinambá!
No corpo, seu manto sagrado de pena
Na alma, a incorporação do poder de um gavião real!
Festança de índio, dia para ritual!
É Karajá, Tapajó, Kayapó, Arara, Araweté, Munduruku e Assurini.
Sou morubixaba de tudo que se vê por aqui!
No verde encontrei riqueza, "jóia" de índio!
A riqueza que "karaiba" gostou:
O sabor do açaí, a fibra do cupuaçu, tucumã, taperebá e bacuri.
Peixe do rio, caroço da inajá!
É meu, mas eles querem!
A cobiça cruza nossas águas em barco grande
Os olhos do Mapinguari vê
A boiúna faz as águas se apekúi
É gente que chega! Gente de todo canto
A taba pinta o corpo pra luta
Tupã faz o céu roncar!
Tá guardado no seio da natureza a riqueza que eles procuram
De tudo um pouco eles querem levar
Do ouro da serra à seiva que escorre
da ferida no tronco da árvore
Faz seus olhos brilharem!
A "fortuna" que a borracha do tempo ainda não pode apagar!
Tá aqui até os dias de hoje
Em fachada de casa
Em cristal de lustre que "alumeia" a beleza do theatro.
Até hoje é assim!
Pra falar de riqueza pelas bandas daqui,
tem que voltar pra floresta
O dono da terra é quem ensina como é que faz
pra lidar com a natureza
Pois é dessas matas que as sementes colhidas
vão enfeitar outros chãos.
Dar adeus a floresta nativa, ser polida, jóia cabocla...
sonho de artesão.
Nesse dia, quando o homem aprender com a gente daqui,
a natureza respeitar
Todo povo vai sair na rua pra cantar.
Nas terras do Marajó, Santarém ou em Belém.
Nossa gente vai festejar:
Traz jambú, camarão seco, tucupi e mandioca.
Oferta a toda gente o tacacá!
Leva o Boi pra rua
Faz festa pra saudar o Boto!
Põe a Marujada pra dançar!
Saia de roda e estampa florida
Roda menino, gira menina
Canta a ciranda mais bonita
Dança o Carimbó e o Siriá!
"Treme" o Povo do Pará!
O artesão fez a sua peça mais bela para ofertar:
Cestaria, cerâmica, um trançado de juta
Da cabaça ele fez cuia, do Miriti arte para brincar!
O Romeiro ergue as mãos
Fita com os olhos o azul que tinge o céu.
A santa ouviu a prece do caboclo:
Outubro se faz agora!
Meu povo já está na rua
Do altar do carnaval se avista o andor e a berlinda florida
A voz do povo faz o canto ecoar mais uma vez
Quem pede é o folião,
Por hoje, romeiro de fé:
Oh Santa!
Dai-me nas Cinzas desta quarta-feira,
O caminho para mais uma vitória
E uma alegria para a vida inteira!
O Pará, seu sabor, seu cheiro, sua gente, suas tradições,
estão na Avenida.
É a Imperatriz quem lhe apresenta aos olhos do mundo:
No futuro, um exemplo a ser seguido.


Carnavalescos:
Cahê Rodrigues, Kaká e Mario Monteiro
Pesquisa e texto:
Cahê Rodrigues e Leandro Vieira
GLOSSÁRIO:
Hê, hyá, hyá, hyá – Canto tupinambá
Cuara – sol
Oby – verde
Ibitu – vento
Apekúi – alvoraçar
Morubixaba – cacique, chefe da tribo
karaíba – homem branco
Mapinguari - Mapinguari tem o corpo todo coberto de pelos, com a aparência de um enorme macaco. Possui um único olho na testa e uma boca gigantesca que se estende até a barriga.
Boiuna - Cobra grande
Taba – Aldeia, Lugar
Muiraquitã- Espécie de amuleto da sorte para os índios
Kayapos, Mundurucu,Asirini, Tapajós, Tupinambás: Tribos Indígenas
O Aningal - é uma plantação característica das ilhas aluviais dos rios amazônicos, principalmente às margens dos rios e igarapés amazônicos.
Cupuaçu,Tucumã, Bacuri, Taperebá – Frutas da região
Jambú - É uma erva típica da região norte do Brasil, principalmente região amazônica e no estado do Pará.
Tucupi – É um tempero e molho de cor amarela extraído da raiz da mandioca.
Tacacá - É uma iguaria da região amazônica brasileira, em particular do Pará.
O Síria - Dança brasileira originária do município de Cametá, localizado no estado do Pará.
O Carimbó - A mais extraordinária manifestação de criatividade artística do povo paraense, misturando dança e canto.
A Marujada – Uma das mais belas manifestações religiosas do folclore paraense.
O "Treme" - é o mais recente ritmo do Pará. Uma mistura de música eletrônica misturada a outros ritmos populares do estado.
Berlinda – Espécie de cúpula que leva a nossa Senhora do Nazaré no dia da procissão.




Sinopse do GRES União da Ilha do Governador, carnaval 2013




"VINICIUS, NO PLURAL
Paixão, Poesia e Carnaval"

Vinicius de Moraes cuja pluralidade é reconhecida em suas obras, pensamentos e paixões receberá por ocasião do seu centenário nossa homenagem. Para compreender melhor o homem e o poeta, resolvemos criar um diálogo imaginário, tomando como respostas seus poemas, contos e entrevistas.
por Alex de Souza

A INFÂNCIA
ILHA – Poeta, fale um pouco da sua infância, suas memórias da nossa Ilha do Governador.
POETA - Era um menino valente e caprino. Um pequeno infante, sadio e grimpante. Esse ei-ou que ficou nos meus ouvidos são os pescadores esquecidos... as barcas da Cantareira...o mar com o seu marulhar ilhéu. Éramos gente querida na ilha, e a afeição daquela comunidade manifestava-se constantemente. Quero rever Governador, a Ilha! Que minha amiga Rachel de Queiroz pensa que é dela, mas não se engane, é nossa. Quero repalmilhar a praia de Cocotá, onde dez anos fui feliz. Era indizivelmente bom.
A POESIA
ILHA - Quando nasceu a poesia na sua vida?
POETA - A poesia paterna, que encontrara numa gaveta velha em casa, foi a minha grande e decisiva influência. Desejei imenso fazer versos assim, versos de amor. Eu havia sempre laborado na arte da poesia, desde os mais verdes anos. Às vezes, em meio aos brinquedos com os irmãos, na Ilha do Governador, fugia e ia me ocultar no quarto, a folha de papel diante de mim. Era tão estranho aquilo! Eu de nada sabia ainda, senão que tinha nove anos e Cocotá era o meu mundo, com sua praia de lodo, seu cajueiro e seus guaiamuns. Mas sabia vibrar em presença da folha branca que me pedia versos, viva como uma epiderme que pede carinho. O menino dentro de seu quarto dentro da Ilha, dentro da baía, dentro da cidade, dentro do país, dentro do mar, dentro do mundo. Com as lágrimas do tempo e a cal do meu dia eu fiz o cimento da minha poesia. Linha por linha, como psicografado, o poema - o meu primeiro poema - começou a brotar de mim. Amava era amar. Amava a mulher. A mais não poder. Por isso fazia seu grão de poesia E achava bonita a palavra escrita. Por isso sofria. Da melancolia de sonhar o poeta que quem sabe um dia poderia ser. Eu mostrava meus sonetos aos meus amigos - eles mostravam os grandes olhos abertos. A poesia é tão vital para mim que ela chega a ser o retrato de minha vida. Portanto julgar minha poesia seria julgar minha vida. E eu me considero um ser tão imperfeito... Pensei que nunca poderia ser poeta.
ILHA - E os Poetas ?
POETA - Me liguei muito a Bandeira, Drummond, Pedro Nava e outros...

COLÉGIO SANTO INÁCIO

ILHA - Religião?
POETA - Família católica, colégio de padres, aquele negócio de confessar aos domingos, de comungar. Mas acho que a vocação para o pecado era maior.
ILHA - Reza?
POETA - Sempre. Um homem como eu, que está sempre apaixonado, vive em prece.

LIVROS

ILHA - Com 19 anos publica o primeiro livro, Caminho para a distância; o segundo, Forma e exegese, que até ganhou um prêmio numa disputa acirrada com Jorge Amado, tinham um cunho espiritual...
POETA - Era o “Inquilino do Sublime”, como disse o Otto Lara Resende.
O BRASIL

ILHA - Poeta, escritor, jornalista, como diplomata conheceu o mundo, mas conheceu também um Brasil real. Mesmo assim, quando estava fora, lhe batia certa nostalgia?
POETA - Sim, não há dúvida: são saudades da pátria, e, sobretudo do que na pátria é pobre e diferente. São doces os caminhos que levam de volta à pátria. Não à pátria amada de verdes mares bravios, a mirar em berço esplêndido o esplendor do Cruzeiro do Sul; mas a uma outra mais íntima, pacífica e habitual.
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias. De minha pátria, de minha pátria sem sapatos e sem meias, pátria minha. Tão pobrinha! Amada, idolatrada, salve, salve! Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta lábaro não; a minha pátria é desolação. De caminhos, a minha pátria é terra sedenta. E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular. Que bebe nuvem, come terra e urina mar.
Atento à fome em tuas entranhas e ao batuque em teu coração.
Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Pátria minha, saudades de quem te ama…
ILHA - Em 42, você viajou com o escritor americano Waldo Frank pelo Nordeste e Norte do Brasil. Esta viagem mudou sua visão política ao descobrir o Brasil?
POETA - Descobrir o Brasil, exatamente. Pela mão de um americano... Mas essa viagem representou para mim, em um mês, uma virada de 360 graus. Saí um homem de direita e voltei um homem de esquerda. Foi o fato de ter visto a realidade brasileira, principalmente o Nordeste e o Norte, aquela miséria espantosa, os mocambos do Recife, as casas de habitação coletiva na Bahia, o sertão pernambucano, Manaus. A barra me pesou mesmo. Eu tenho um envolvimento político bastante grande, mas nunca o expressei em minha poesia, exceto quando surgiu como uma coisa válida, como em “Operário em construção”, “Os barões da terra”, “Mensagem à poesia”.
ILHA - Como você vê o Brasil?

POETA - Eu digo sempre uma coisa: tenho uma grande fé no Brasil. Uma fé meio estúpida, meio instintiva, por causa do povo. Realmente, a minha fé no Brasil não vem das instituições, nada disso. Agora, eu acredito neste povo. E cada vez que eu voltava ao Brasil, de alguma viagem ao exterior, essa crença aumentava, compreende? E como essa crença é um bem gratuito, eu prefiro tê-la a não tê-la.
ORFEU
ILHA - Contam que a visita que fez com o escritor americano Waldo Frank, o mesmo que viajou com você pelo Norte e Nordeste, e à favela da praia do Pinto, que havia no Leblon, deixou-o enfeitiçado com o ritmo e a sensualidade dos negros sambistas. Frank teria dito que eles pareciam gregos antes da própria cultura grega. E naquele carnaval de 1942, a ideia enfim brotou de uma batucada no Morro do Cavalão, em Niterói, foi isso?
POETA - Pus-me a ler, por desfastio, num velho tratado francês de mitologia grega, a lenda de Orfeu - o maravilhoso músico e poeta da Trácia. Curiosamente, nesse mesmo instante, em qualquer lugar do morro, moradores negros começaram uma infernal batucada, e o ritmo áspero de seus instrumentos - a cuíca, os tamborins, o surdo - chegava-me nostalgicamente de envolta com ecos mais longínquos ainda do pranto de Orfeu chorando. O interesse que tinha pelo mito do Orfeu – o poeta- músico, que eu considerava, num plano ideal, o grande criador.
ILHA - Orfeu da Conceição (título sugerido por João Cabral de Mello Neto), Uma tragédia carioca, acabou resultando no seu encontro com Tom Jobim. Lúcio Rangel indicou e você pergunta a Paulinho Soledade, que também lhe falara a respeito.
POETA - Paulinho, estou precisando de um maestro que me ajude numas músicas que vou fazer. Você tem algum?
ILHA - Paulinho responde: Tom Jobim, mas tem um problema: ele é moderno...
ILHA - Trechos de Orfeu da Conceição.

O morro, a cavaleiro da cidade, cujas luzes brilham ao longe.
São demais os perigos desta vida

Para quem tem paixão, principalmente.
Toda a música é minha, eu sou Orfeu!
Eurídice...
Se todos fossem iguais a você Que maravilha viver!
Eurídice morreu.
No interior do clube Os Maiorais do Inferno, num fim de baile de
terça-feira gorda.
E viva a orgia! É o reinado da folia! É hoje o último dia! E viva!
Amanhã é Cinzas! Hoje é o último dia! E viva Momo! E viva a folia!
Sem Eurídice não há Orfeu, não há música, não há nada. O morro parou, tudo se esqueceu. O que resta de vida é a esperança de Orfeu ver Eurídice, de ver Eurídice nem que seja pela última vez! Desceu às trevas, e das grandes trevas ressurgiu à luz, e subiu ao morro onde está vagando como alma penada procurando Eurídice… Tudo morre que nasce e que viveu
Só não morre no mundo a voz de Orfeu.
CINEMA
ILHA - Sua paixão por cinema vem de criança. Defensor do filme mudo, você foi de censor a crítico. Roteirista de diversos filmes. Nessa sua paixão por cinema, como foi levar Orfeu para as telas, ainda que decepcionado com o resultado?

POETA - Sou apaixonado por cinema. Só Deus sabe como gosto de uma boa fita, o prazer que me traz “ver cinema”, discutir, ponderar, escrever, até fazer cinema na imaginação. Nesta adaptação construo o filme como eu o faria. Ao contrário de minha peça, em que a "descida aos infernos" de Orfeu situa-se numa gafieira, no 2º ato, estou transpondo o carnaval carioca para o final do filme, como o ambiente dentro do qual a Morte perseguirá Eurídice.
ILHA - Um dos grandes sucessos do filme foi “A Felicidade”, que dizia:
Tristeza não tem fim
Felicidade sim
(...)A felicidade é como a gota
(...)E cai como uma lágrima de amor
A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
(...)Pra tudo se acabar na quarta-feira
BOSSA NOVA
ILHA - Fale-me de sua música.

POETA - Não falo de mim como músico, mas como poeta. Não separo a poesia que está nos livros da que está nas canções. Era uma insatisfação minha verificar que a poesia de livro atingia um número tão reduzido de pessoas. Dizem, na minha família, que eu cantei antes de falar. E havia uma cançãozinha que eu repetia e que tinha um leve tema de sons. Fui criado no mundo da música, minha mãe e minha avó tocavam piano, eu me lembro de como me machucavam aquelas valsas antigas. Meu pai também tocava violão, cresci ouvindo música. Depois a poesia fez o resto. A música começou mesmo na década de 50, quando voltei de meu primeiro posto diplomático no exterior, em Los Angeles. Agora, eu sempre fazia minhas músicas, antes, mesmo sozinho, mas sem nenhum intuito de editar ou ver cantar. Aos 15 anos tive uma experiência interessante: eu me liguei a uma dupla vocal, que havia aqui, chamada Irmãos Tapajós, e comecei a compor com eles.


ILHA - Durante os cerca de quatro anos em solo americano, você se apaixonou pelo jazz, que futuramente seria uma das raízes fundamentais para a Bossa Nova. Tom Jobim teve uma formação semelhante e João Gilberto, no interior da Bahia, também se interessava pelo mesmo estilo musical e, coincidentemente, teve as mesmas influências dos músicos cariocas. E o marco foi “Chega de saudade”, com Elizeth Cardoso e depois gravado por João Gilberto. Você acha que a influência do jazz foi boa para a bossa nova?

POETA - Acho que foi uma influência muito boa. Com a influência do jazz, abriu tudo isso, você podia introduzir qualquer instrumento num conjunto de samba, os instrumentistas improvisavam, as harmonias melhoraram muito e se enriqueceram, os instrumentistas tornaram-se excelentes e conheciam profundamente seus instrumentos, como é o caso de Baden e Tom. A influência foi benéfica porque houve uma descaracterização de nossa música. O samba estava sempre presente na bossa nova. Além disso, a bossa nova trouxe mais alegria e bom humor à nossa música, que andava muito voltada para a tristeza, a dor de corno, a fossa, naquela época do Antonio Maria. Eram músicas muito bonitas, o chamado samba de boate. Com a bossa nova a coisa ficou mais sadia, mais otimista, os sentimentos eram mais de comunicação, mais legais. Bossa nova é mais um olhar que um beijo; mais uma ternura que uma paixão; mais um recado que uma mensagem.
Vai, minha tristeza
E diz a ela que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer
Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim
Não sai de mim
Não sai

Tanto assim que eu sou um dos pouquíssimos compositores brasileiros que atravessou essas gerações todas. Eu fiz música com o Pixinguinha, o Ary Barroso, com o pessoal da geração do Antonio Maria, o Paulinho Soledade; depois peguei o Tom, o Baden, o Carlos Lyra, o Edu, o Francis e, em 69, o Toquinho. E mesmo com caras mais jovens que o Toquinho eu já fiz música, como o Eduardo Souto Neto, o João Bosco.

AFROSSAMBAS E BAIANICES
ILHA - Em meados de 62, quando começa a compor com Baden Powell, surge uma grande virada com os ritmos baianos ...
POETA - O Baden tem uma produção muito boa, e foi ele quem me introduziu o elemento africano, o que não havia antes na bossa nova - eram todos brancos, arianos.
ILHA - Naquela altura da vida você retomou um caminho de fé?
POETA - Num plano assim de vida, não. Restou talvez uma certa religiosidade, própria de meu temperamento. Por exemplo, eu me interesso por candomblé, certas superstições. Isso é sinal de que tem algum fogo na cinza.
ILHA - Época dos afrossambas e você acabou virando... O branco mais preto do Brasil. Na linha direta de Xangô.
POETA - Quando digo que eu sou o branco mais preto do Brasil, digo a verdade. A minha comunicação com a raça negra é imensa. Sinto atração por ela, a todo momento descubro a sua vitalidade. A contribuição do negro à cultura brasileira é importantíssima. Só a contribuição rítmica que eles trouxeram; a magia do mundo negro, já me liga a eles definitivamente.
ILHA - Maysa e Elis Regina fizeram sucesso com “Canto de Ossanha”, num LP que exaltava com outros “Cantos”, outros orixás.
POETA - Amigo sinhô sarava, Xangô me mandou lhe dizer: - Se é canto de Ossanha, não vá! Que muito vai se arrepender. Pergunte pro seu orixá. Amor só é bom se doer.
ILHA - E essa africanidade toda rendeu até palavrão. Uma nova forma de xingar os militares da ditadura?
POETA - Te garanto que na Escola Superior de Guerra não tem milico que saiba falar Nagô:
Eu saio da fossa xingando em nagô. Vou lhe rogar uma praga, eu vou é mandar você: Pra tonga da mironga do kabuletê.
ILHA – Em seu período baiano, você fez amizade com uma das mais famosas Ialorixás...

POETA - Ela é a Mãe Menininha do Gantois
Que Oxum abençoou, Tatamirô!
ILHA - Por encomenda, você e Toquinho fizeram a trilha da novela O bem amado, uma das faixas de maior sucesso foi “Meu pai Oxalá”.

Atotô Abaluayê Atotô babá
Atotô Abaluayê Atotô babá

Meu pai Oxalá é o rei Venha me valer
O velho Omulu

Atotô Abaluayê

ILHA - Voltando à Elis Regina, ela venceu o festival da canção de 1965, música sua e de Edu Lobo, onde, além do primeiro lugar, você ainda faturou o segundo de quebra com Elizeth Cardoso. Vamos recordar uns trechinhos de “Arrastão”?

Ê! Tem jangada no mar Hoje tem arrastão! Todo mundo pescar Olha o arrastão entrando no mar sem fim. Traz Iemanjá pra mim Ê! É a rainha do mar Valha-me meu Nosso Senhor do Bonfim Nunca, jamais se viu tanto peixe assim.

ILHA - Essa onda afro, que começa com Baden em 1962, onde se destaca também “Berimbau”...

Capoeira me mandou Dizer que já chegou para lutar Berimbau me confirmou Vai ter briga de amor Tristeza, camará

ILHA -...se estende quase dez anos depois na sua temporada baiana, com uma nova parceria, para os íntimos o Toco.
POETA - Encontrei novamente um parceiro pra valer, e ele é um jovem paulista de 24 anos, com uma pinta de menestrel medieval conhecido pelo apelido de Toquinho, e simplesmente “janta” o violão.

ILHA - "Tarde em Itapuã", seria dado para o Caymmi musicar. Mas você lhe deu um voto de confiança e rendeu um dos maiores sucessos dessa parceria.

O dia pra vadiar
Um mar que não tem tamanho
É bom
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã
CARIOCA

ILHA - Belas mulheres sempre inspiram, não é?
POETA - As muito feias que me perdoem
Mas beleza é fundamental.
ILHA - A menina que passa acabou gerando a mais cantada música brasileira no mundo que é a “Garota de Ipanema”. Enquanto a menina passava você acabou tirando parte da letra definitiva num comentário com o Tom. Qual foi o comentário?
POETA - Você notou que quando ela passa o ar fica mais volátil? Eu acho que nem os egípcios, nem o próprio Einstein saberiam explicar por quê.
Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela menina
Que vem e que passa
Num doce balanço
A caminho do mar
Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar
(...)
Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor

ILHA – “Carta ao Tom 74” mostra o saudosismo daquela época.
POETA - Rua Nascimento e Silva, 107 Você ensinando pra Elizete As canções de Canção do amor demais (...) Ah, que saudade Ipanema era só felicidade (...)Nossa famosa garota nem sabia A que ponto a cidade turvaria Esse Rio de amor que se perdeu
VINICIUS PARA CRIANÇAS
ILHA - Você lançou um livro de poemas infantis dedicado aos seus filhos. Desde a década de 70 tinha o desejo de musicar esses versos e transformá-los em um álbum. Foram dois álbuns com canções inspiradas em alguns dos poemas e interpretadas por grandes nomes de MPB, delas se destacam:

“A casa”
Era uma casa muito engraçada. Mas era feita com muito esmero, na rua dos bobos, número zero.

“Aquarela”
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo. Vamos todos numa linda passarela de uma aquarela que um dia enfim, descolorirá.

“O pato”
Lá vem o Pato Pata aqui, pata acolá Lá vem o Pato Para ver o que é que há.

“A arca de Noé”
E abre-se a porta da Arca desconjuntada. Colorida maravilha, brilha o arco da aliança. Aos pulos da bicharada toda querendo sair. De par em par: surgem francas, conduzidos por Noé. Do prudente patriarca Ei-los em terra benquista

PAIXÕES
ILHA - O Drummond disse que você havia nascido sob o signo da paixão. Vamos ao ponto: Amor ou Paixão?

POETA - Eu ainda acho que o amor que constrói para a eternidade é o amor paixão, o mais precário, o mais perigoso, certamente o mais doloroso. Esse amor é o único que tem a dimensão do infinito.
Eu sou um namorador inveterado.
Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure
Labareda
O teu nome é mulher
Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai, que bom que isso é, meu Deus
Que frio que me dá
O encontro desse olhar
Eu não ando só
Só ando em boa companhia
Com meu violão
Minha canção e a poesia
Para viver um grande amor
E cada verso meu será
Pra te dizer
Que eu sei que vou te amar
Por toda a minha vida
ILHA – Boemia...
Onde anda a canção
Que se ouvia na noite
Dos bares de então
E por falar em paixão
Em razão de viver
Você bem que podia me aparecer
Nesses mesmos lugares
Na noite, nos bares
Onde anda você

ILHA - Sua alma boêmia tinha em seus versos sempre a companhia da lua ...
O poeta se deixa em prece
Ante a beleza da lua.
Vagabunda, patética, indefesa
Ó minha branca e pequenina lua!
Lua linda!
Uma volúpia infinda!
Linda lua!
lua amada
lua ardente
tão presente
Como se fosses minha namorada!
ILHA - Quero lhe apresentar aos nossos poetas da Ilha.
POETA -A bênção, todos os grandes
Sambistas do Brasil

ILHA - Qual a receita de um bom samba?
POETA - Mas pra fazer um samba com beleza
É preciso um bocado de tristeza
Senão, não se faz um samba não
Fazer samba não é contar piada
E quem faz samba assim não é de nada
O bom samba é uma forma de oração
Porque o samba nasceu lá na Bahia
E se hoje ele é branco na poesia
Ele é negro demais no coração
Ponha um pouco de amor numa cadência
E vai ver que ninguém no mundo vence
A beleza que tem um samba, não

ILHA - E as tantas amizades que você fez?

POETA - A gente não faz amigos, reconhece-os.

ILHA - Seus parceiros?
POETA - Meus principais parceiros, Antonio Carlos Jobim, Carlinhos Lyra e Baden Powell, são pra mim o Pai, o Filho e o Espírito Santo...
ILHA - E o Toquinho?
POETA - Amém.
E há Pixinguinha. Pixinguinha, eu acho que é o próprio Deus em pessoa.
Isso sem falar em Ary Barroso.
Edu lobo e Francis Hime.

ILHA - Você poderia definir qual seu estilo?
POETA - Infelizmente, eu não tenho estilo. Um amigo meu costuma dizer que eu sou muitos. Se fosse um só, não me chamaria Vinicius de Moraes, no plural.
ILHA – E agora o Vinicius showman. Para comemorar seu centenário e a eternidade de suas obras, vamos fazer surgir um grande palco com alguns de seus grandes shows: Boite Au Bon Gourmet, com Tom e João Gilberto; no mesmo local, com Carlos Lyra e Nara Leão, na comédia musical Pobre menina rica; Boite Zum Zum, com Caymmi e quarteto em Cy; Toquinho e Clara Nunes, no teatro Castro Alves, em Salvador; Maria Medalha e Maria Creusa, em Milão; Bethânia e Toquinho, no La Fusa, em Mar Del Plata; com Joyce, em Punta Del Leste; Tom, Toquinho e Miúcha, no Canecão e inúmeros outros...
ILHA – Já que celebrar é alegria de viver, o que é a vida pra você?

POETA - A vida é arte do encontro
Embora haja tanto desencontro pela vida
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
É melhor ser alegre que ser triste
Alegria é a melhor coisa que existe
É assim como a luz no coração

ILHA - Você, um poeta dentro da vida... Ela tem sempre razão?
POETA - Sei lá, sei lá
Só sei que é preciso paixão

ILHA - E a morte?
POETA - Eu morro ontem
Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.
Quem vai pagar o enterro e as flores
Se eu me morrer de amores?
Amigos meus, está chegando a hora Em que a tristeza aproveita pra entrar E todos nós vamos ter que ir embora Pra vida lá fora continuar Prontinha pro show voltar E em novo dia A gente ver novamente A sala se encher de gente Pra gente comemorar
E no entanto é preciso cantar Mais que nunca é preciso cantar É preciso cantar e alegrar a cidade Quem me dera viver pra ver E brincar outros carnavais
A bênção, que eu vou partir
Eu vou ter que dizer adeus

ILHA - Calma poeta, tenho uma última pergunta:
Um repórter lhe perguntou se você tinha medo da morte. O que respondeu?
POETA – Não, meu filho. Eu não estou com medo da morte. Eu estou é com saudade da vida.
ILHA - Até mais Poeta...te vejo na Ilha.
POETA - Saravá!