Carnaval

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Sinopse da Rocinha, carnaval 2011

Rocinha! Estou vidrado em você


Hoje vou mostrar, com transparência, minha longa vida de transformação ao lado do Homem. De lendas criadas sobre minha descoberta à datação de peças achadas em escavações arqueológicas e, principalmente, todas as mudanças que minha existência proporcionou ao dia a dia do ser humano. Conta a lenda que nasci de uma alquimia acidental, quando numa fogueira feita por fenícios, sobre a areia, foram depositadas pedras de sílica que junto com o fogo fez na manhã seguinte um líquido viscoso escorrer desta fogueira. Esse, ao esfriar, cristalizou-se como uma pedra preciosa encantando os mercadores. Minha existência é milenar. Achados arqueológicos indicam o meu uso em peças pequenas de bijuteria e decoração. Adornei faraós, enfeitei suas tumbas e guardei produtos de beleza de reis e rainhas em formas ainda rudimentares. Fui desejado por impérios e comercializado como jóia. Em terras egípcias, os fornos foram aquecidos por foles que aumentaram minha temperatura, facilitando o meu manuseio. Fui soprado como um balão e deram formas novas a meu existir. Levado ao ocidente, por romanos conquistadores que, com técnicas mais apuradas, moldaram a arte de me criar. Na Idade Média, narrei histórias religiosas para seus fiéis em mosaicos coloridos que adornavam as catedrais. Com o meu amadurecimento, fui misturado e modificado. Adicionando chumbo, virei cristal e, pintado com prata, refleti a imagem deste criador. Ao lado do ouro, decorei os mais lindos castelos e me tornei um precioso artigo de ostentação para nobres. Com a areia escorrendo dentro de mim, marquei o tempo e vi a popularização do meu uso chegar às mãos dos meros mortais, ajudando a focar suas visões e a matar suas sedes. Temperaram minha alma, e deixei o mau tempo do lado de fora. Da chuva e do vento, protegi os seus passeios sobre rodas. Um brinde à vida no tilintar dos meus encontros. O tempo todo estou ao lado de vocês, será que não percebem isso? Minha natureza inusitada faz com que eu assuma várias formas e tenha muitas utilidades. Eu queria ter visto Thomas Edson acender sua lâmpada sem minha transparência. A ciência e a tecnologia me impulsionam sempre à frente. A comunicação via rádio e televisão não existiriam sem que meu corpo protegesse as antigas válvulas incandescentes. O homem enxergou o espaço e olhou para dentro de seu corpo ajustando o foco em minhas lentes, observou o microcosmo que o cerca, misturou fórmulas em meus recipientes. Dados percorrem o meu ser levando informações de alta qualidade pelo mundo, e, assim, eu sei que ainda tenho um longo caminho a percorrer com o meu inventor. Voaremos nas asas vidradas de uma borboleta rumo ao desconhecido.

Texto: Luiz Carlos Bruno
Carnavalesco assistente: João Victor
Revisão: Hermínio Mattos Russo e Maria Gabriela Matos de Oliveira.

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