"O DIA EM QUE TODA A REALEZA DESEMBARCOU NA AVENIDA PARA COROAR
“Quero ser lembrado como o sanfoneiro que amou e cantou muito seu povo, o sertão; que cantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes, os valentes, os covardes, o amor.”
Abre e fecha esse fole que a comitiva vai chegar
A Avenida é a estrada que leva sertão adentro
E ninguém que aqui está esquecerá esse momento.
De lembrar que, em noite de estrela, nasceu um rei no sertão
Que virou majestade de tanto ensinar o baião
Andando e cantando a história de seu povo
Cem anos depois, ele vai ser coroado de novo.
Convidamos reis e rainhas pra mostrar que desde menino
Luiz Gonzaga, o Lua, já tinha de astro o destino
Mostrava o sorriso e a alegria, cantava e dava lição
Mas lá no fundo guardava saudade no coração.
Senhoras e senhores, o roteiro dessa viagem
Leva a terras distantes, onde um povo de coragem
Desafia a seca e a poeira, do barro ganha a vida
Esculpe a terra, tece a renda, de sol a sol nessa lida
No mercado, montam a banca e é bonito de se ver
E de tudo que há no mundo, nele tem para vender
Cores, cheiros, sabores da cultura nordestina
Lá se compra toda a sorte dessa vida Severina.
Segue o comboio real, vai cruzando o caminho
No lombo do burro, chega às terras de Vitalino
O mestre da escultura, que todo mundo copia
Bonecos que contam a vida, as coisas do dia a dia.
Mas pra conhecer o sertão, é preciso ter coragem
Atravessar a caatinga, seguir em frente a viagem
Pedir benção, rezar com fé, ser beato, ser romeiro
E reunir com toda a tropa, lá na Missa do Vaqueiro.
Senhores, rainhas e reis, o Rei do Baião anuncia
Que, depois de tanta reza, vai crescer a valentia
É pegar a beira do rio, é ser Lampião e Corisco
Pra conhecer a beleza do Vale do São Francisco.
Andar pela margem pra ver a vida que brota dos rios
O Velho Chico crescendo, com água que vem dos baixios
A cana, os frutos, o gado, o canto do passarinho
Cantar a saudade do rei, desse tempo de menino,
Toca a boiada, vaqueiro! Segue em guarda o cangaço
Que cada afluente que corre do Velho Chico é um braço
Desce pro sul até ver carrancas que trazem a sorte
A cara feia que espanta não deixa ter medo da morte.
“Simbora” que vem a noite, é hora de ver balão
Que as festas já começaram, tem “arraiá”, tem quentão
São José foi no plantio, na colheita é São João
A quadrilha já tá pronta, vai ter forró e baião.
E a sanfona anima o povo, todos vão se apresentar
Pra comitiva real, ao som do fole brincar
Bumba meu boi, maracatu, frevo, pagode e reisado
E tudo que precisar pra gente ficar animado.
Foi cantando pelo sertão que Gonzaga virou rei
De tanto cantarem junto, sua canção hoje é lei
Da poesia na praça, da valentia e coragem
Sua lição ganha as rádios, difunde sua mensagem.
Nas estações onde passa, vai contando sua vida
Espalha alegria e raça, hoje ganha a Avenida
E a Tijuca agora brinca e pra todo o mundo diz
Que a estrela de Gonzaga no céu descansa feliz.
Paulo Barros (carnavalesco)
Isabel Azevedo
Simone Martins
Ana Paula Trindade