Carnaval

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Sinopse, União da Ilha 2012





Argumento
“Once upon a time”, ou “ERA UMA VEZ”... é a forma mais popular, desde 1380, de iniciar histórias em língua inglesa. E se tornou convencional na abertura de narrativas a partir de 1600, da mesma forma que terminam com um: “E VIVERAM FELIZES PARA SEMPRE”. Prevalecem em contos de fadas para crianças e na tradição oral de recontar mitos, fábulas e folclore. A cada quatro anos o mundo se une para o grande momento do esporte e para celebrar a paz. A cidade anfitriã faz em sua abertura uma representação artística de sua história e sua cultura. No ano de 2012, Londres será a sede desse evento. A União da Ilha fará uma versão bem carioca e carnavalesca dessa festa. E também uma contagem regressiva para os jogos olímpicos do Rio de Janeiro. Em vermelho, branco e azul, as mesmas cores do Reino Unido, a Ilha falará da Ilha que sambará ao batuque da Ilha. Saint George, padroeiro da Inglaterra, estará ao lado de São Sebastião do Rio de Janeiro, ambos padroeiros da nossa escola. O fogo que atravessou nosso último carnaval nos uniu, assim como o fogo olímpico une as nações. Superamos as dificuldades, assim como cada atleta supera seus limites para atingir o pódio. Era uma vez uma Ilha feita de alegria e muito samba que vai contar histórias de outra Ilha. Incendiando a avenida misturando irreverência e tradição, vamos acender a pira com o fogo da paixão e transformação. Foi dada a partida! A festa vai começar!!!


Sinopse

... Onde vivia um povo valente e guerreiro. Um dia, apesar de ser defendida com bravura, um grande império a conquistou. O imperador invasor fundou uma cidade que cresceria até se tornar uma das mais importantes do mundo. Capital de um país e depois de um reino que se tornaria unido. Sua história é feita de reis e rainhas, príncipes e princesas, e de heróis errantes. Nobres cavaleiros cruzaram terras para defender a sua fé. Vestidos e armados com as armas de um santo guerreiro e com sua cruz estampada na bandeira, seguiram em sua saga de bravos, pondo sob as patas de seus fiéis ginetes o mais temível dragão.(1) Nesta terra, a fantasia e a realidade se confundem. Em sua tradição, narram contos onde espadas são encantadas e cálices são sagrados. Histórias de távolas redondas, fiéis escudeiros e magos a serviço de um só Rei. Nos palcos encenam histórias de amores impossíveis, comédias, dramas e tragédias. Onde nesta noite de verão, há somente uma questão: ser ou não ser? Nas ambições por um trono, até as “rosas” guerreiam. (2) Em uma era dourada, conquistaram os mares e a Coroa aliou-se a corsários e piratas em busca de inesgotáveis tesouros. Dominaram por séculos boa parte do planeta. Lançaram, sob a ótica da ciência, um novo olhar sobre fatos naturais e a todo vapor se tornaram condutores revolucionários, pondo o progresso nos trilhos e no campo do pensamento. Publicaram temas que nos deram arrepios e nos levaram a um delirante país das maravilhas. Seus artistas brilharam nas telas e sob as luzes da ribalta. Com suingue(3) encurtaram medidas, mudaram comportamentos e deram uma chance à paz e ao amor. Inventaram com a bola nos pés a nossa maior paixão. Hoje convidam a todos para um encontro onde pessoas do mundo inteiro mostram o que é superação, exaltando a cultura de paz. Saudemos aqueles que ultrapassam seus limites e dentre esses os nossos patrícios que sempre nos enchem de orgulho. Era uma vez... A nossa Ilha, onde também vive um povo valente e guerreiro, que defende com bravura sua bandeira. Que todo ano vem para conquistar o coração de um lugar que cresceu até se tornar um dos mais importantes da terra e que em breve será o próximo anfitrião. A Ilha é a pista para esse sonho aterrissar e a porta de entrada das nossas vitórias. Nessa grande paródia carnavalesca, vamos adiantar os ponteiros do relógio e imaginar que a festa é aqui e agora. Acender a chama da paixão, incendiar de alegria toda a cidade e renovar as esperanças. Contos de fadas são como o carnaval, e sempre nos levam ao imaginário, sendo assim, esta história não poderia terminar diferente: “E viveremos felizes para sempre”.
Alex de Souza
Carnavalesco

(1) Referência á oração de São Jorge, Padroeiro da Inglaterra.
(2) Citações ás peças de Willian Shakespeare. O maior dramaturgo de língua inglesa.
(3) Swinging London foi uma expressão utilizada nos anos 60 para descrever a vanguarda londrina. Swinging representaria algo com arrojo, moderno, etc.

Sinopse, Grande Rio 2012





''A nossa maior glória não reside no fato de nunca cairmos, mas sim, em levantarmo-nos depois de cada queda.'' (Confúcio).


Não me peça para desistir. Acredito, sigo em frente porque só sei caminhar! Não me desanimo: caio, levanto, a volta por cima hei de dar. A força não está em mim: Para quem do céu herdou a promessa, a vitória é coisa certa; a questão é esperar. Por entre nuvens os anjos se puseram a anunciar: ''não te desespera'', não deixa o desânimo tomar conta de ti, tira os olhos das dificuldades e coloca-os em mim.

Com a palavra, o céu desce a terra. Das alturas, rica fonte de entusiasmo: a direita do pai, a me guiar, aquele que ao enfrentar o adverso, foi grato exemplo da importância de aprender a superar. Com os olhos fitos nos céus, sinto o calor luminoso que rompe a barreira das nuvens que outrora foram de tempestade. Me banho junto às águas de bonança que seguem após a revolta das marés. Me conforto, ganho ânimo, e um novo carnaval assim eu faço: tudo o que renasce com maestria, todo aquele que enfrenta e vence o que lhe desafia, faz crescer o que imagino, para construir um carnaval.

Na perda do amor que se foi, faço hora para o que virá. Se a saúde fizer despedida, espero ela voltar. Não há medo, vício, ou preconceito, que eu não possa enfrentar.Enfrento a perda e a dor, venço o medo com sabedoria, rimo a piada com o que não tem graça, lhe conto um conto, de sabedoria popular: Não tema o que lhe parece ''maior'', não te desespere diante ao que lhe parece impossível. Precisamos, dia-dia, enfrentar e derrubar nossos temidos gigantes!

Por isso vos digo como exemplo a lhe ofertar: Se o som for sepultado em meus ouvidos, faço melodia e canção no silêncio que habita a imaginação. Se na escuridão meus olhos me lançarem, solto a voz para a multidões, faço do canto, luz para iluminar. Quando a dor me castigar, faço dela o incentivo para o entalhe mais perfeito da beleza de um altar. Se pobre eu nascer, se a vida me bater, se a dor me esmagar; abro sorriso ao adverso, luto de peito aberto, para as luzes da ribalta me consagarar! Se a vida me testar, tirar-me o que julgo precisar, se a firmeza das mãos me faltar, o dom de Deus resplandecerá e uma orquestra surgirá.

Na busca por superar, topo aceitar o desafio: Vou suar a camisa, correr distancias longas, meu corpo está posto a prova; certamente, eu chego lá! Quero um lugar no pódio, quero os louros da vitória, quero mérito por superar. Cambaleei, enverguei, não desisti, e exemplo me tornei!

Na luta pela conquista, sou herói, sou atleta! Recebo sopro divino, corro em linha reta, corro atrás de bola, um fenômeno surgirá. Alço as velas do meu barco e lavo minhas dores nas águas do azul que tinge o mar. Em águas cristalinas nado com a força de um tubarão, faço o mundo avançar em braçadas. Saltando próximo as nuvens, com os pés no chão, ou sobre rodas, o que me guia é a superação!

Na história do homem sobre a terra, exemplos ei de dar: Quando um homem ajuda um homem, não há dor coletiva que ele não possa se curar. Avança o dia, avança a noite. Corre o tempo, a tristeza fica pra trás. O que se expandiu junto a uma manhã que explodiu, hoje é a pagina virada, ''rosa desbotada'', que ninguém mais viu. O que se destruiu, se reconstruiu. Onde o ''preto'' não era ''branco'', onde o ''branco'' não era ''preto'', levantou-se a voz da nova ordem a anunciar a união. Dando a mão a um irmão, tijolo por tijolo, lágrima por lágrima, erguemos um bem precioso, reconstruímos uma Nação.

O vento sopra a bandeira verde e amarela e faz o exemplo de seus filhos brilharem em nossos olhos. São ''Joãos'', ''Marias'', ''Silvas'', ''moleques'' que correm descalços, trabalhadores do asfalto, gente que luta, gente que vence. São mulheres que rompem as barreiras das limitações. São homens que vencem a ''seca'' e o ''pau de arara'', para ocupar, quem sabe, o mais alto posto no comando da Nação. Jovens que ultrapassam os barracos da cidade. Mães que fazem da luta prova de superação. Homens e mulheres que levantam a poeira do chão, guerreiros que batem samba na palma da mão; a baiana que gira, o sorriso da velha-guarda, o passista que risca o chão, a bateria quer marca o pulsar do coração, ''gente que enverga mas não quebra'', gente que vem a ser o siginificado mais claro e puro para o nome SUPERAÇÃO!

Cahê Rodrigues – Carnavalesco
Pesquisa e texto: Leandro Vieira, Lucas Pinto e Cahê Rodrigues

Sinopse, Salgueiro 2012





"Cordel Branco e Encarnado"


(Cheio de poesia, imaginação e encantamento) apresenta:

Minha “fia”, meu senhor
Deixa eu me apresentar
Sou poeta e meu valor
Vai na avenida passar
Basta imaginação
Um “cadim” de inspiração
Que eu começo a versar

Vou cantar a minha arte
Que nasceu bem lá distante
Num lugar que hoje é parte
Da nossa origem errante
Vim das bandas da Europa
Nas feiras, a boa trova
Era demais importante!

Foi assim que o mar cruzei
Na barca da encantaria
Chegou por aqui um Rei
Com bravura e poesia
Carlos Magno o os doze pares
Desfilando pelos mares
Da mais real fidalguia

E veio toda a nobreza
Que um dia eu imaginei
Rainha, duque, princesa
E até quem eu não chamei:
Um medonho de um dragão
Irreal assombração
Dessa corte que eu sonhei

Também tem causo famoso
Que nasceu lá no Oriente
De um tal misterioso
Pavão alado imponente
Que cruza o céu de relance
Dois jovens, e um só romance
Vencendo o Conde inclemente
Todas essas histórias
Renasceram no sertão
Onde vive na memória
O eterno Lampião

E não houve um brasileiro
Que de Antônio Conselheiro
Não tivesse informação

Pra viajar no meu verso
É preciso ter “corage”
Vai que um bicho perverso
Surge que nem “visage”?
Nas matas sertão afora
Lobisomem, caipora
Que medo dessas “image”!!

Pra findar esse rebuliço
Rezar é a solução!
Valei-me meu “padim” Ciço!
Vá de retro, tentação!
Nossa Senhora eu não quero
(Tô sendo muito sincero)
Cair nas garras do cão!

E não é que meu santo é forte?
Cheguei ao céu divinal
É tamanha a minha sorte
A minha vitória afinal
É cantar com alegria
Fazer verso todo dia
Na terra do carnaval
Ao ver chegar a tal hora
Da minha “alegre” partida
Saudade, palavra agora
Tem posição garantida
Mas não se avexe meu irmão
Que hoje a coroação
Acontece é na avenida
Pois eles hão de herdar
Todo esse sertão sonhado
Monarcas que vão reinar
Na corte do Sol dourado
Poetas de tradição
Recebam de coração
Um cordel Branco e Encarnado

E agora eu vou sem medo
Fazer festa “de repente”
Vai nascer um samba-enredo
Pra animar toda a gente
Afinal, não sou melhor
Muito menos sou pior
Só um poeta diferente!

Renato Lage, Márcia Lage, Departamento Cultural

Sinopse, mocidade Independente de Padre Miguel 2012





Ao escolher Candido Portinari como tema, a Mocidade Independente vem celebrar um dos maiores nomes da pintura brasileira no cinquentenário de seu desaparecimento.

Através de suas mais importantes obras, mostraremos a trajetória deste artista que acima de tudo retratou em seus quadros e murais, a história, o povo e a vida dos brasileiros, através dos traços fortes e vigorosos carregados de dramaticidade e expressão.

Esta homenagem escrita em forma de poema é a maneira mais digna encontrada para festejar este mestre que além de pintar também foi poeta e que entre outras manifestações artísticas soube tão bem ilustrar com seus desenhos os poemas de Carlos Drummond de Andrade, seu grande amigo e parceiro na versão do livro “Dom Quixote de La Mancha”, de Miguel de Cervantes.

Por fim é a Mocidade Independente que se orgulha em levar para o desfile um pouco da obra imortal de Portinari ao conhecimento do grande povo, aquele que sempre foi a sua grande fonte de inspiração.

Num voo mágico, viaja o samba,
a conduzir meu povo feliz
em seu viajante sonho.

Solto no universo garboso, prosa em verso,
na fantasia a se tornar realidade,
leva os tambores da felicidade,
para despertar o artista na morada celestial.

Ó mestre, ergueis do sono esse quadro vazio.
Sua obra vive no cantar de nossa gente.

Põe nas tuas mãos o teu instrumento,
tua tela hoje é o firmamento,
que a arte se deixa tingir o breu da noite,
com um colorido de festa,
a aquarela do carnaval.

Vai, reinventa mais um lúdico céu.
Pinta por nós a nossa estrela,
tu que pintaste tanto a Mocidade,
deixa a tua mão deslizar Independente.

Hoje, somos as tintas que envolvem
as cerdas do teu pincel, e que,
na mistura das cores, por ti, Portinari,
rompem a tela para a realidade
e brilham no samba de Padre Miguel.

Hoje, uma moldura viva e humana
enquadra a tua história na pista,
e teu traço se refaz nos pés,
no passo do sambista,
que vai riscar murais de sonhos
e estampar retratos,
cena dos Brasis que tu desenhastes.

À luz da inspiração, vem fazer reluzir em nossa mente
a cândida infância de tua Brodowski querida,
e reflorescer os campos com suor da lida,
dos mestiços viris a lavrar a ampla terra.

“Entre o cafezal e o sonho”,
vem reunir retalhos e as lembranças coloridas,
como as dos espantalhos a oscilar na brisa,
serenos sobre as plantações.

Hoje, é um tempo que não passa.
Um turbilhão, um vento que sopra,
que varre e traz recordações,
e que vem devolver a ti a meninice.

Somos nós os teus meninos,
sem rosto, anônimos na multidão,
que fazem girar o teu mundo
num rodopio frenético,
como se fossem um pião,
tal como um caleidoscópio
a transmutar em formas a tua imaginação.

Somos a quimera límpida,
que balança livre num céu pontilhado,
às vezes, de pequenas pipas e balões.

Viemos abrir o teu coração
e revelar esse tal sentimento,
que subjugou a estética,
ao adulterar a técnica pela arte livre,
carregada de emoção.

Nessa força da cor que se imprime,
se diluem teus nativos,
descobridores, heróis desbravadores,
fauna e flora a percorrer paredes
como ciclos, desvendando a história,
o caminhar dessa nação.
Nesta hora, trazemos a alegria
pintada em nossas caras.

O suor que transpira
sob as luzes deste palco
é a nossa emoção que transborda,
ainda que exale de nós
a têmpera do mesmo povo sofrido,
do caminhar errante,
em busca da terra prometida, a vitória.

Imagina nós, os retirantes,
embora a esconder a face dura da vida,
como tão pungente retrataste,
dando o tom da cor às palavras
de “Guimarães” e “Graciliano”,
a cor da dor, escassa,
como a secura da terra do cangaço,
por vez, na força do traço,
a bravura sertaneja.

A nossa odisséia e a nossa missão
é cantar-te, nosso estandarte, a glória,
como quem procura buscar nas alturas a prova.

Somos cenas bíblicas,
tal qual as que interpretastes,
nos vemos Santos,
Anjos olhados por Deus,
a voar nos céus azulejados.

Viemos aqui à luta,
contra o inimigo invisível,
os moinhos de vento
de uma aventura inventada.

À sorte, nos imaginamos fortes,
como o arauto sonhador
a rabiscar no papel uma estrada escrita
num poema de “Drummond”.

Somos “Dom Quixote De La Mancha”,
a empunhar a lança feita de lápis de cor.

Enfim, somos todos iguais esta noite,
como aqueles tantos que tua mão desenhou.

Somos o samba, o morro,
a favela, a dança, a música,
o contraste social,
trabalhadores do sonho,
assim como os da vida real.

Vamos à luta,
temos as caras das tuas caras,
o autorretrato da tua alma.
Somos todos em um,
a tua lembrança viva,
a eterna Mocidade,
modernista, revolucionária e guerreira
que, aqui neste momento,
ergue a ti um monumento,
um imenso mural,
pintado com a nossa alegria,
na batalha feliz deste dia,
“Guerra e Paz” do carnaval.

Alexandre Louzada

Carnavalesco

Histórico:

Candido Portinari nasceu no dia 29 de dezembro de 1903, numa fazenda de café em Brodowski, no Estado de São Paulo. Filho de imigrantes italianos, de origem humilde, recebeu apenas a instrução primária e desde criança manifestou sua vocação artística. Aos quinze anos de idade foi para o Rio de Janeiro em busca de um aprendizado mais sistemático em pintura, matriculando-se na Escola Nacional de Belas Artes. Em 1928 conquista o Prêmio de Viagem ao Estrangeiro da Exposição Geral de Belas-Artes, de tradição acadêmica. Vai para Paris, onde permanece durante todo o ano de 1930. Longe de sua pátria, saudoso de sua gente, Portinari decide, ao voltar para o Brasil em 1931, retratar nas suas telas o povo brasileiro, superando aos poucos sua formação acadêmica e fundindo a ciência antiga da pintura a uma personalidade experimentalista a antiacadêmica moderna. Em 1935 obtém seu primeiro reconhecimento no exterior, a Segunda Menção Honrosa na exposição internacional do Carnegie Institute de Pittsburgh, Estados Unidos, com uma tela de grandes proporções intitulada CAFÉ, retratando uma cena de colheita típica de sua região de origem.

A inclinação moralista de Portinari revela-se com vigor nos painéis executados no Monumento Rodoviário situado no Eixo Rio de Janeiro – São Paulo (na hoje “Via Dutra”), em 1936, e nos afrescos do novo edifício do Ministério da Educação e Saúde, realizados entre 1936 e 1944. Estes trabalhos, como conjunto e como concepção artística, representam um marco na evolução da arte de Portinari, afirmando a opção pela temática social, que será o fio condutor de toda a sua obra a partir de então. Companheiro de poetas, escritores, jornalistas, diplomatas, Portinari participa da elite intelectual brasileira numa época em que se verificava uma notável mudança da atitude estética e na cultura do país: tempos de Arte Moderna e apoio do mecenas Getúlio Vargas que, dentre outras qualidades soube cercar-se da nata da intelectualidade brasileira de seu tempo.

No final da década de trinta consolida-se a projeção de Portinari nos Estados Unidos. Em 1939 executa três grandes painéis para o pavilhão do Brasil na Feira Mundial de Nova York. Neste mesmo ano o Museu de Arte Moderna de Nova York adquire sua tela O MORRO. Em 1940, participa de uma mostra de arte latino-americana no Riverside Museum de Nova York e expõe individualmente no Instituto de Artes de Detroit e no Museu de Arte Moderna de Nova York, com grande sucesso de público, de crítica e mesmo de venda (menor das preocupações do Artista…)

Em dezembro deste ano a Universidade e Chicago publica o primeiro livro sobre o pintor, PORTINARI, HIS LIFE AND ART, com introdução do artista Rockwell Kent e inúmeras reproduções de suas obras. Em 1941, Portinari executa quatro grandes murais na Fundação Hispânica da Biblioteca do Congresso em Washington, com temas referentes à história latino-americana. De volta ao Brasil, realiza em 1943 oito painéis conhecidos como SÉRIE BÍBLICA, fortemente influenciado pela visão picassiana de Guernica e sob o impacto da 2ª Guerra Mundial. Em 1944, a convite do arquiteto Oscar Niemeyer, inicia as obras de decoração do conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, destacando-se o mural SÃO FRANCISCO e a VIA SACRA, na Igreja da Pampulha. A escalada do nazi-fascismo e os horrores da guerra reforçam o caráter social e trágico de sua obra, levando-o à produção das séries RETIRANTES e MENINOS DE BRODOSWKI, entre 1944 e 1946, e à militância política, filiando-se ao Partido Comunista Brasileiro e candidatando-se a deputado, em 1945, e a senador, 1947. Ainda em 1946, Portinari volta a Paris para realizar sua primeira exposição em solo europeu , na Galerie Charpentier. A exposição teve grande repercussão, tendo sido Portinari agraciado, pelo governo francês, com a Légion d!Honneur. Em 1947 expõe no salão Peuser, de Buenos Aires e nos salões da Comissão Nacional de Belas Artes, de Montevidéu, recebendo grandes homenagens por parte de artistas, intelectuais e autoridades dos dois países.

O final da década de quarenta assinala o início da exploração dos temas históricos através da afirmação do muralismo. Em 1948, Portinari exila-se no Uruguai, por motivos políticos, onde pinta o painel A PRIMEIRA MISSA NO BRASIL, encomendado pelo banco Boavista do Brasil. Em 1949 executa o grande painel TIRADENTES, narrando episódios do julgamento e execução do herói brasileiro que lutou contra o domínio colonial português. Por este trabalho Portinari recebeu, em 1950, a medalha de ouro concedida pelo Juri do Prêmio Internacional da Paz, reunido em Varsóvia.

Em 1952, atendendo a encomenda do Banco da Bahia, realiza outro painel com temática histórica, A CHEGADA DA FAMÍLIA REAL PORTUGUESA À BAHIA e inicia os estudos para os painéis GUERRA E PAZ, oferecidos pelo governo brasileiro à nova sede da Organização das Nações Unidas. Concluídos em 1956, os painéis, medindo cerca de 14×10 m cada – os maiores pintados por Portinari – encontram-se no “hall” de entrada dos delgados de edifício-sede da ONU, em Nova York. Em 1955, recebe a medalha de ouro concedida pelo Internacional Fine-Arts Council de Nova York como o melhor pintor do ano. Em 1956, Portinari viaja a Israel, a convite do governo daquele país, expondo em vários museus e executando desenhos inspirados no contado com recém-criado Estado Israelense e expostos posteriormente em Bolonha, Lima, Buenos Aires e Rio de Janeiro. Neste mesmo ano Portinari recebe o Prêmio Guggenheim do Brasil, a Menção Honrosa no Concurso Internacional de Aquarela do Hallmark Art Award, de Nova York. No final da década de cinquenta, Portinari realiza diversas exposições internacionais.

Expõe em Paris e Munique em 1957. É o único artista brasileiro a participar da exposição 50 ANOS DE ARTE MODERNA, no Palais des Beaux Arts, em Bruxelas, em 1958. Como convidado de honra, expõe 39 obras em sala especial na I Bienal de Artes Plásticas da Cidade do México, em 1958. No mesmo ano ainda, expõe em Buenos Aires. Em 1959 expõe na Galeria Wildenstein de Nova York e, juntamente com outros grandes artistas americanos como Tamayo, Cuevas, Matta, Orozco, Rivera, participa da exposição COLEÇÃO DE ARTE INTERAMERICANA, do Museo de Bellas Artes de Caracas. Candido Portinari morreu no dia 06 de fevereiro de 1962, quando preparava uma grande exposição de cerca de 200 obras a convite da Prefeitura de Milão, vítima de intoxicação pelas tintas que utilizava.

Sinopse, Beija-Flor 2012



Areias infindas das terras das palmeiras do meu país, depois do oceano, do areal extenso, o horizonte imenso, onde a terra esboça luz. Upaon-Açu, solo sagrado, terra de encantarias, onde vive em plena mata, a tribo dos homens nus. São guerreiros dos cumes dos montes, dos vastos horizontes, onde canta o sabiá. São combatentes bravos, que não se fizeram escravos do estalar do açoite dos que vieram te dominar.

Sem saber o que esperar, três Coroas te cobiçaram as riquezas, os relatos do Novo Mundo inflamaram as paixões, por cidades de ouro puro a serem descobertas, de fantásticos prazeres, ilusão hiperbólica dos seres, transformados em quimera bestial.

A França te fundou, Holanda te invadiu, mas Portugal conseguiu, por fim, te colonizar. Mas para tanto, o que se deu foi um quadro medonho e triste, que, ao surgir, no mar se achou. Abrindo as velas ao soprar das virações marinhas, surge espectro sombrio. Em meio às brumas, desenha grande navio, que traz um canto funeral. Choro, amargura e horror fazem do cúmulo da maldade, a mordaça da liberdade para triste multidão; o navio da escravidão, ferida aberta nos mares, vem macular os ares de São Luís do Maranhão.

Fatalidade atroz, envolve reis e rainhas, soberanos de selvas longínquas da majestade dos leões. Ontem belos, livres e bravos, agora míseros escravos; sem luz, sem lar, sem amplidões.

E a terra se desdobra, cresce, evolui, se renova, a ferro, fogo e escravidão. Mas nos planos divinos, nos reinos cristalinos, nos píncaros da luz eterna, surge nova terra, cultivada à força da oração.

Upaon-Açu, ressurge agora mística no poder dos voduns e ao som dos tambores de Daomé, na manifestação dos antigos e na força do candomblé. Desse misticismo santo, surge a alegria e o encanto das festas que te enfeitam, por vezes, como o Boi morto e ressuscitado da negra mãe Catirina, celebração divina em meio a enfeitados casarões de azulejos
portugueses; teu folclore tem brilho farto, que à tua riqueza conduz.Terra dos ludovicenses, Ilha do Amor e dos mitos da Fonte do Ribeirão, da terrível serpente encantada, da lenda da praia do olho dágua, de Iná princesa, e do milagre de Guaxenduba. Fala-se de uma sinhá incompreendida, que virou assombração, e no soar da meia-noite,
surge o espectro sinistro, ouvem-se o ranger de correntes, estalar de açoites, seres sombrio como a noite, escravos arrastados em imenso turbilhão.

E a Sinhá Ana Jansen sofre agora, aprisionada em carruagem encantada por antigos escravos seus, furiosos, desesperados, cortejo de celerados, esquecidos filhos de Deus. E a cena só termina, quando o galo, na campina, anuncia o dia raiar.

São Luís, capital do Maranhão, terra de Alcione, de Joãozinho Trinta, de Zeca Baleiro, de Rita Ribeiro, do Reggae Brasileiro, de Gonçalves Dias, de Ferreira Gullar e Josué Montelo.

Vestindo a fantasia, vem celebrar nossa folia o fofão, o vira-lata, cruz-diabo, o corso do meretrício e as cabrochas a brincar com os mascarados dos salões do Moisés.

Em meio a tanta festa reluz o Eldorado da bauxita, minério batizado pela Coroa que te fundou e que desconheceu essa tua riqueza, que hoje é chama acesa para que possas progredir; na luz dos céus incomparáveis do futuro que te aguarda, na imensidão, para te consagrar, enfim, São Luís, pérola sagrada da Coroa encantada do glorioso Maranhão.

Laíla
Diretor Geral de Carnaval

Laíla, Fran Sérgio, Ubiratan Silva, Victor Santos e André Cezari
Comissão de Carnaval

Bianca Behrends
Pesquisa e Documentação Artística

Sinopse, Mangueira 2012

Tudo começou na África, num tempo em que eu era ainda moço e minha tribo estava a mercê do perigo e os sacerdotes cuidavam de expulsar com reza forte as vibrações de má sorte que rondavam nossa morada. Lembro-me que os mensageiros da morte vieram de longe, do outro lado das águas, talvez, não tinham sequer no corpo o bronze da nossa pele, não tinham os lábios carnudos, eram estranhos em tudo! E até mesmo esses detalhes que constroem a nossa face, neles eram diferentes. Juro que inocente, pensei até em disfarce. Conduzido pela dor, fui levado prisioneiro ao traiçoeiro Negreiro, o reino da apatia. Lá, sujeito as doenças e a fome que habitavam aquele porão sombrio, caí no mais denso e frio estado de melancolia. E era como um açoite, a escuridão da noite, toda vez que ela chegava. E eu sofria pesadelos, acordava assustado. Ainda na inocência, confundia a luz da vidência com as trevas dos maus presságios. Ao desembarcar, os pés feridos, descalços, vi quando o sal do oceano espalhou-se sobre o chão molhado desenhando uma linda concha do mar e, ouvi a voz de Iemanjá me falar: este "Mundo" é o teu "Novo" lar! Prepara-te, o teu futuro te reserva coisas lindas, surpresas te virão ainda. Já em terra firme, nos primeiros anos depois que saí da minha terra, suportei a mão pesada da escravidão e as feridas da solidão. Certa vez, escondido pelo breu da noite, resolvi caminhar na mata. Eu já andara bastante. Com a respiração ofegante, parei pra descansar um instante.

E o sono foi me apagando, a cabeça meio tonta, eu já nem me dava conta do perigo de dormir longe da senzala, do povo da minha tribo, sem a proteção de um abrigo. E ali sonhei meu destino. No sonho um guerreiro caçador, o cacique dos índios, passeava naquelas terras e me viu sentado sob uma tamarineira que ele havia plantado no seu tempo de menino. Sentou-se ali do meu lado, desenhou com seu arco, no chão, uma pequena flecha e, com amabilidade, perguntou a minha idade, quis saber em que cidade eu havia nascido. E eu, me sentindo aà vontade lhe falei dos deuses iorubás, da minha terra natal, do cordão umbilical, do rio da minha aldeia. E ele, com calma, me falou do poder das folhas e das raízes
que transformam em cicatrizes ferimentos e mordeduras de aranhas e de serpentes; dos banhos quentes de algumas ervas e sementes, que curam até os doentes de alma. Ao voltar pra senzala era como se meu coração tivesse fala.

O Rio de Janeiro era o meu novo terreiro e nas batucadas, nas festas, na alegria das ruas, nas brincadeiras do povão, encontrei meu destino e enganei a solidão. Quando o Entrudo chegava uma maravilha de ruídos invadia as ruas, um barulho encantador que contrastava com a sujeira reinante. Divertidas batalhas com limão de cera, água e farinha branca atiradas entre os participantes aconteciam a todo instante. Zé-pereira, bumbos, rostos e bumbuns de negros azucrinando nas praças e no passeio público, zombando, se divertindo, enquanto a viola chorava e espinoteava espantando a tristeza. E tudo era instrumento, flauta, violões, pandeiros, latas, gaitas, frigideiras de ferro, caixotes e trombetas. Instrumentos sem nome, inventados subitamente no delírio da improvisação, do ímpeto musical, na força do sentimento. Já que batucar na cozinha Sinhá não deixava, o nosso canto ecoava nas senzalas e invadia as ruas. Aliás, na rua do Ouvidor, na rua Direita ou no Largo de São Francisco tudo era canto e os sons sacudiam e movimentavam as vestimentas de cores vivas, ardentes, dançando e tateando os corpos que exalavam o doce perfume da alegria.

A elite fazia biquinho e implicava, chamava nossa festa de selvagem e brutal e que o verdadeiro carnaval estava nos salões da nobreza de Paris e Veneza. Discriminada e com as autoridades policias no encalço, a turma dos descalços e descamisados tratou de arrumar um jeitinho para continuar festejando. Com um olho no padre e outro na missa lutamos
dançando, dançamos rezando e rezamos cantando. As festas, celebrações e procissões dos brancos, agora, serviam como máscaras e disfarces. Por trás delas festejávamos nossas entidades sagradas e batucávamos até o sol raiar. Organizados em Cordões carnavalescos, cantadores e dançarinos, palhaços, a morte, os diabos, os reis, as rainhas, as baianas, os morcegos e os índios também entraram na dança e colocaram a polícia pra dançar. No noturno da Praça Onze, ali mesmo na nossa "Pequena África", os desfiles do Pastoril e dos Maracatus em louvor à Ciata D'Oxum, a tia-mãe-baiana dos festejos, se tornaram a sensação e os luxuosos Ranchos cantadores, dominados pelos negros e castanhos, rompiam a massa colorida em grande animação. Para matar a sede dos cantadores e dos berradores, os refrescos de coco, os gelados de abacaxi e limão. Para a fome, bolos de fubá, pé de moleque, alcaçar, tapioca, manauê e feijoada no caldeirão. Mascarada, a elite branca se esbaldava no luxo dos salões, nos desfiles dos corsos e das grandes Sociedades. O povo preto e pobre, barrado no baile burguês, continuou dono das ruas e vielas como legítimos senhores da folia. Música, fanfarra, préstito, maxixe e, finalmente, de semba se fez samba. Abençoadas por Nossa Senhora do Rosário, na Festa da Penha, as negras suspendiam as saias rodadas e dançavam, nos requebros das ancas, no arranco das umbigadas. Enquanto os senhores rezavam na parte alta das escadarias, na parte de baixo, a sensualidade era religiosa, o ritmo dos batuques era sacerdotal e feiticeiro. Ali desaguavam os cantos e as melodias de todo o povo brasileiro e os compositores da primeiríssima geração de sambistas, testavam a popularidade do seu cancioneiro.

O tempo passou. A cidade se transformou em uma selva de pedra onde a "Onça" reinava absoluta e era a principal atração. "Vejam todos presentes, olha a empolgação, este é o Bafo da Onça que eu trago guardado no meu coração". Até que um dia, um "Cacique" bamba entrou na folia e dividiu a tribo do samba sem vacilação. "Foi lá no fundo do seu quintal que o samba pegou moral e agitou a massa, e o povo voltou a cantar e sorrir, caciqueando aqui e ali, abrindo o coração pro amor". De repente as ruas esvaziaram-se! Será que a "Onça" vacilou, foi beber água de cheiro e se afogou?! Até mesmo o bravo "Cacique" parecia cansado das batalhas de confetes e desanimou! Para onde teria ido a alegria? Onde estaria a espontaneidade que transformava cem pessoas saídas de um bairro em quinhentas, em mil, sem ninguém se conhecer? Mas o samba é eterno, não tenho medo de responder! Ele até pode agonizar, mas jamais irá morrer! A "Onça" marcou bobeira e não mais saiu da toca, mas o "Cacique", malandro, mudou de oca, foi fazer morada à sombra de uma tamarineira e ali no subúrbio da Leopoldina, abençoado por Oxossi, o pagode ecoou vindo do "Fundo do Quintal" e embalado por banjos, repiques, tantãs e pandeiros conquistou o Brasil inteiro. "Batam palmas, gritem, soltem a voz. Pra manter o pique só depende de nós"! O carnaval, a partir daí, não terminava mais na quarta-feira de cinzas. Quase sem querer, ele se fragmentou em diversas festas nos lares das famílias simples, em animadas rodas de samba, em batuques sobre mesas de bares, confirmando que a tribo do samba ainda queria apito, sem necessariamente o pau ter que comer! Isso tudo já faz muito tempo.

Hoje eu chego com o vento e volto aos pés da velha tamarineira, sento-me novamente ao lado do guerreiro e de Oxossi em saudação ao meio século de história do cacique de Ramos. Nós somos as raízes e o Cacique é o tronco desta árvore que deu frutos como Jorge Aragão, Almir Guineto, Arlindo Cruz, Dicró, Mauro Diniz, Zeca Pagodinho, Luis Carlos da Vila e Neguinho da Beija-Flor, entre outros nomes, além da dindinha Beth Carvalho um bendito fruto feminino entre tantos homens.

Salve a tribo dos bambas; esse "Doce Refúgio" de pagodeiros e malandros no bom sentido da palavra. A tribo que bate tambor e faz ecoar o surdo de primeira pra saudar a sagrada tamarineira e confirmar que o bom samba também mora em Mangueira. Afina, "onde eu cheguei, nem um mortal chegou, modesta parte nessa arte, Deus me consagrou e o meu canto ecoou por todo universo, até em Marte o meu samba fez sucesso!" Por tudo isso vou festejar, pois sou Cacique, sou Mangueira!

Cid Carvalho
Carnavalesco